"O primeiro homem que cercou um pedaço de terra e disse que era sua
propriedade e encontrou pessoas que acreditaram nele foi o fundador da
sociedade civil. Daí vieram muitos crimes, muitas guerras, horrores e
assassinatos que poderiam ter sido evitados se alguém tivesse arrancado
as cercas e alertado para que ninguém aceitasse este impostor. Não
podemos esquecer que os frutos da terra pertencem a todos nós e a terra a
ninguém" Sem conhecer a autoria do texto, pode-se facilmente ler e acreditar que Marx ou algum revolucionário (lê-se esquerdista) o escreveu, não é mesmo? Ledo engano, esse trecho pertence a Rousseau, grande teórico da democracia.
Poderia eu parodiá-lo e dizer que "O
primeiro homem que cercou um punhado de ideias e disse que eram certas e
encontrou pessoas que acreditaram nele - e outras que discordaram- foi o
fundador do preconceito." Parece estranho, não é mesmo? Que nossa
sociedade tão democrática ( será?) visualize pensamentos de crítica às
estruturas sociais ou à mentalidade formal das pessoas como
esquerdista ou qualquer coisa do gênero.
Mas
não, não estou aqui para discutir direita e esquerda. Longe de mim
querer escolher entre um dos lados, afinal, isso seria me contradizer.
Quando tento não polarizar a sociedade estou fazendo uma crítica ao
preconceito; a toda espécie de preconceito. Não serei hipócrita, é
claro, para dizer que não os tenho, todos temos, infelizmente.
O primeiro preconceito que perpetua milênios, isso mesmo, milênios: Povos sempre tiveram preconceitos entre si. Ser hostil com o diferente
parece intrínseco ao ser humano, seria um mecanismo de defesa? Deixo
essa pergunta para a psicologia. Mas fato é que o ser humano é
preconceituoso contra as etnias diferentes da sua, e só pela educação e
conhecimento é que superamos isso. Sem estigmatizar um preconceito de
brancos versus negro, mas no sentido geral, de todos contra todos. Ou
vai me dizer que não existe preconceito contra asiático, europeu (
talvez no ocidente não tanto, porque aqui eles são referência, mas nem
todo mundo gosta da Europa), árabes, indígenas e até contra os
brasileiros. (Sim, nem todo mundo nos ama!). Sempre que penso nesse tipo
de preconceito, vejo como somos mais animais do que racionais...
Outro
tipo de preconceito bastante antigo é contra o físico, mas não por
questões étnicas, como a cor da pele, mas contra o modelo físico. Em
épocas, ser gordo era bem visto, em outras, magro; em épocas nariz
grande era bem visto, em outras, não... A cada dia mais vemos como esse
tipo de preconceito se fragmenta, porque são tantas opiniões
divergentes que é difícil ele se consolidar.(Ufa! Que bom!) Ou vai me
dizer que nunca olhou para alguém com o olho meio torto e deu uma risada
interna? Mas tudo bem, o quesito de beleza faz parte da atração humana.
Só tento não deixar que os estereótipos quanto à aparência sejam
levados as últimas consequências ou me impeçam de conhecer as pessoas.
Falando
de estereótipos chegamos a outro preconceito milenar. ( É impressão
minha, ou o ser humano desenvolveu preconceito antes mesmo de descobrir o
fogo?) A religião vem criando embates desde... Desde quando? Desde
sempre, eu acho. Se parar para pensar ninguém tem a mesma fé, as pessoas
podem até seguir os mesmos dogmas, seres superiores, e bases de origem,
mas todas pensam diferente. Ninguém conceitua sua fé do mesmo jeito, o
que é completamente natural, talvez seja porque não somos máquinas!
(pelo menos, não ainda). Pensando deste modo, ter preconceito contra a
crença dos outros parece absurdo, mas é real. Quer provas do que eu
digo? Pergunte a duas pessoas da mesma fé para conceituarem Deus, em
suas próprias palavras. Elas dirão a mesma coisa, certo? Errado,
provavelmente eles descreverão de forma bem diferente, ainda que com
palavras similares, por causa do seu livro religioso e orientadores
(padre, pastor, sacerdote...), se este for o mesmo. Mas deixemos esse
assunto por aqui, porque isso de fato é algo para se endoidecer.
Fiquemos apenas coma ideia de que é preciso conhecer as diversas
religiões e entender que assim como você não gosta de ter sua crença
ofendida, os outros também não gostam. Poderia me delongar durante dias
falando sobre esse tema mais vou me conter aqui. Concluirei a mensagem
de forma genérica: Deixar que alguém te imponha certa ideia e diga que
ela é certa ou melhor do que a do outros é ignorância e falta de bom
senso. É interessante pensar que Hitler era só um homem com
preconceitos, em quem as pessoas acreditaram, com poder. Quem cada um de
nós seria se tivesse poder? Um Calígula? Ou um Nelson Mandela? Sem mais
vitimização, sem mais preconceito e com mais tolerância.
Giovana de Carvalho Florencio
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