É mês das crianças! E nossas programações
estão recheadas da doçura e das lembranças de infância. Agora, te pergunto:
Como falar desse livro que simplesmente mudou a minha vida? Dê a uma criança de
11 anos um bom livro e um pouco de esperança e verá o nascimento de um
escritor. Além de uma grande inspiração para minha vida pessoal, "A Bolsa
Amarela” foi o ponta pé inicial para minha trajetória literária. Então vamos
falar um pouco dessa belezura.
Ano: 2008
Páginas: 140
Sinopse: A BOLSA AMARELA é a história de uma menina que entra em conflito consigo mesma e com a família ao reprimir três grandes vontades (que ela esconde numa bolsa amarela ) - a vontade de ser gente grande, a de ter nascido menino e a de se tornar escritora. A partir dessa revelação - por si mesma uma contestação à estrutura familiar tradicional em cujo meio "criança não tem vontade" - essa menina sensível e imaginativa nos conta o seu dia-a-dia, juntando o mundo real da família ao mundo criado por sua imaginação fértil e povoado de amigos secretos e fantasias. Ao mesmo tempo que se sucedem episódios reais e fantásticos, uma aventura espiritual se processa, e a menina segue rumo à sua afirmação como pessoa.
A BOLSA AMARELA foi traduzido em vários idiomas e encenado em teatros do Brasil, da Bélgica e da Suécia; recebeu o prêmio "O MELHOR PARA A CRIANÇA", da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil; foi incluído na LISTA DE HONRA do IBBY (International Board on Books for Young People) e fez parte integrante da obra de Lygia que recebeu o prêmio HANS CHRISTIAN ANDERSEN e o prêmio ALMA (ASTRID LINDGREN MEMORIAL AWARD).
Sobre o livro: A imaginação da criança é a peça central da
obra. Tendo ganhado de "presente"- o que na verdade era as sobras das
coisas usadas da sua tia- uma grande bolsa amarela, a sonhadora Raquel guarda
seus bens mais preciosos: suas vontades e um alfinete que achou na rua. Com o
tempo, a turma da bolsa amarela vai crescendo e recebe um galo que não queria
ser rei, outro galo muito briguento e uma guarda-chuva ( é isso mesmo, ela era
menina) que não abria nem lembrava sua história.
Com a sutileza do olhar de uma
criança, Lygia Bojunga problematiza a igualdade de genero, os direitos da
criança e os sonhos, no caso, o da escrita. Primeiro, abordarei sobre o desejo
de Raquel de crescer. A pequena é filha temporona, possuindo três irmãos, duas
mulheres e um homem. A diferença de idade entre os irmãos é outro fator que não
ajuda, enquanto Raquel está por entrar na adolescência, todos os outros já são
adultos. Oras, é compreensível a pequena se sentir tão excluída de tudo,
afinal, ela sempre era a criança na história.
Depois, o segundo desejo de Raquel
era de ser menino. Até ler esse livro acho que realmente nunca tinha conseguido
expressar minha revolta quando ouvia coisas do tipo: Isso é coisa pra menino,
rosa é cor de menina ou qualquer atitude que a nossa sociedade tenha
estigmatizado referente às distinções entre gênero. Mas veja bem, Raquel não
era feminista nem nada. Era só uma menina indignada com as ironias da
sociedade, dentro de sua própria casa, em que seu irmão sempre podia mais. Alto
lá, está dizendo que isso é regra geral? Não me interpretem mal, não foi isso
que quis dizer. Até porque, anos atrás quando a obra foi escrita, o movimento
feminista nem estava tão em voga assim (corrijam-me se eu estiver errada), além
disso, é um livro infantil. Ou seja, são apenas as constatações de uma menina
sobre a realidade.
'- Tá vendo? Falaram que tanta
coisa era coisa só pra garoto, que eu acabei até pensando que o jeito era
nascer garoto." BOJUNGA, Lygia.
E por último, o encantador desejo
de ser escritora. Ah, esse foi o que mexeu mais comigo. Desde minha mais tenra
idade gostei de inventar histórias, passei a escrever poesias aos meus 8 anos,
mas admito: era um desastre. Não que hoje eu seja grande coisa. Mas voltando ao
livro, Raquel queria e gostava de escrever, apenas era mal compreendida. Não
tinha amigos, ninguém para ler o que escrevia e sua família só sabia tirar
sarro de suas histórias. Porém, ela foi forte, não se deixou abater, o desejo
de escrever falou mais alto e sua bolsa amarela seria o gancho para seus
primeiros contos. Advinha só quem se animou e sentou para escrever as várias
histórias que tinha na cabeça? Depois de 7 anos ainda acho que sou bem mais ou
menos, mas como já dizia minha querida Raquel: "Paciência".
Com essa doçura no olhar de uma criança,
repleto de fantasias e sonhos, Raquel nos traz a magia da infância e uma lição
para a vida adulta. Não importa quantos anos temos, o que querem que sejamos ou
o que nos impõe, é preciso ser o que somos. É isso ou carregar uma bolsa
repleta de histórias e pesando como chumbo. É, eu prefiro viver cada dia de uma
vez como sou do que fingir ser o que não sou. É por isso que recomendo aos altos
e baixos, novos e velhos, homens e mulheres, que leiam "A Bolsa
Amarela".
" Acabei até mudando de idéia: resolvi
que se eu queria escrever qualquer coisa eu devia escrever e pronto. Carta,
romancinho, telegrama, o que me dava na cabeça. Queriam rir de mim? Paciência.
Melhor rirem de mim do que carregar aquele peso dentro da bolsa amarela." BOJUNGA, Lygia.
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