"Estava ao som de Cálice
na voz de Chico Buarque e Milton Nascimento quando pensei nesse ditado popular.
A música sob suas interpretações é clara e direta. Tão direta quanto mortes causadas por balas perdidas, você sabe que alguém foi atingido e que alguém disparou, mas não sabe quem apertou o gatilho nem onde, é o que está além do que se pode ver. Perdoe-me por não saber lidar com sentimentos ( e pela minha analogia mal feita),
pelo menos não como a sociedade gostaria, mas tudo bem, não sou um robô. Lembro-me
de chorar um bocado de vezes assistindo filmes de robôs, aquilo de não ter
sentimento me deixava tão triste, mas tão triste que não aguentava. Só tinha de
fechar os olhos e engolir o choro quando estava vendo filme com meus primos e
amigos "másculos", afinal, nenhum deles parecia aceitar a ideia de que homem
também tem sentimento.
Sou tão intenso quanto a aos sentimentos que me pergunto se alguma moça a procura de seu perfeito 'Ken' aceitaria uma
pessoa tão densa como eu. Afinal, atrás do que as pessoas estão, no amor,
na amizade, nos negócios ou na guerra. Sim, todos estão à espera de atitudes
óbvias, claras, de pessoas mecanizadas, nem tão rasas nem tão profundas. Se é
raso demais torna-se chacota, e ao invés de tentar te inundar, tentam apenas
vomitar informações condensadas e prontas em você. E se é intenso demais, bem,
é segregado, o especial, o diferente, o estranho... Não me interessa o
que esperam ou deixam de esperar de mim, só queria que as pessoas tentassem
entender um pouco dessa minha densidade.
Veja bem, meia palavra
basta? Meia palavra basta quando há milhares de pessoas morrendo em guerras,
quando meias palavras distorcem religiões em fundamentalismos, meia palavra basta
quando a intolerância mata milhares de pessoas todos os anos debaixo do nosso
nariz? Talvez nenhuma palavra seja suficiente para bastar quando se trata de
toda nossa esdrúxula política. Talvez nenhuma palavra baste quando falamos da
dor que sentimos. Talvez ainda não seja necessária nenhuma palavra para bastar
o amor que sinto toda vez que olho aqueles olhos...
Palavras apenas,
palavras pequenas, palavras ao vento... Sempre tentei entender como funcionava
esse negócio de comunicação. As pessoas riem umas das outras, de suas más
expressões, seus sotaques, suas faltas de palavras, seus excessos, suas
palavras grosseiras, suas palavras sorrateiras, porém, ninguém parece tentar
entender as palavras. Não se dão conta de que há gênios não descobertos porque
são analfabetos. Nem percebem que a sabedoria habita os cantos mais curiosos.
Vejo guerra e vejo dor,
vejo palavras mal ditas, meias palavras e meias verdades. Sinto ainda que
jamais entenderei o mundo em sua totalidade, porque não domino as palavras. Enquanto o
suor escorre pela minha testa espero na fila para ser chamado: Alistamento
militar obrigatório. Não há cálice, nem cale-se, que me faça engolir ou
entender quanto ao universo no qual estou em que cada país precisa de um
exército. Em que a guerra é "necessária" e em que o ser humano precisa destruir o
outro para sobreviver. Jamais, me lembre disso se eu vier a esquecer, deixarei que meias palavras
bastem, que o ódio baste, e que o cálice baste.”
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