terça-feira, 25 de julho de 2017

Poesia de vida- (Dia do Escritor)


Da vida, a poesia é a maior fantasia
Encanto dos meus dias e alegrias
Palavras semeadas em línguas, gesto e ação
Poesia é um ato de amor e pura gratidão
Viva a vida! Grata seja pela poesia

Semeia sementes de recantos em cantos
Sinta a vida em uma inspiração constante
Os batuques e acordes vão lentamente vibrando
Rodam as manivelas dessa vida infante
Drama dessa minha alma aos berrantes

Fluxos de palavras a tambolirarem venéreas
Negras de amores a rentes almas esféricas
Beija-flores a janela sugam o néctar das flores
E a chuva pasma que cai desmorona os amores
Reinações de narizinhos a poetizar as cores

Sem certezas ou dúvidas, sou como uma via crucis
Sou o tintilar do vidro ao render-se ao duro chão
Sou o mundo, sou a mágoa, a eterna solidão
As palavras me são faca para matar minha paixão
A paixão desmedida pela beleza da poesia e suas cruzes
Giovana de Carvalho Florencio


sábado, 15 de julho de 2017

Resenha- Ensaio sobre a cegueira

Ensaio Sobre A CegueiraEditora: Companhia das Letras
Ano:  1995
Páginas: 310
Idioma: Português 

Sinopse: Um motorista parado no sinal se descobre subitamente cego. É o primeiro caso de uma "treva branca" que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos se perceberão reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas.
O "Ensaio sobre a cegueira" é a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti. Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".

Opinião: Saramago estava na minha lista já fazia um bom tempo, ainda mais depois de que assisti o filme dessa belíssima obra. Imaginei que se o longa tinha a capacidade de me fazer sentar na cama e refletir sobre a vida, o que faria o livro? Por isso me preparei e digeri aos poucos esse importante ensaio sobre a cegueira humana. Afinal, o que é ser cego? A cegueira aparece aqui como a protagonista da história, doença que se alastra e contamina a todos, sobrando apenas uma pessoa sã. Como ela poderia ajudar os outros?
Entrar na obra e conhecer o máximo da miséria humana aos olhos de uma única pessoa sã, nos faz refletir sobre o sentimento de impotência que por vezes nos assola. Um motorista fica inexplicavelmente cego enquanto observa o sinal vermelho, consulta um médico, que por sua vez fica com o mesmo mal. E de igual modo, todos os pacientes daquele dia. A esposa do médico, sem temer, vai junto ao esposo para a quarentena, alegando estar cega. A cegueira branca não parecia ter explicação na medicina, talvez fosse algo psicológico, mas como assolaria tantas pessoas assim? Isso é, todos, menos a esposa do médico.
Na quarentena vemos de tudo, desde a fome, o instinto materno de uma jovem para com um menininho estrábico, o amor desta por um velho, um casal lutando para ficar junto e a morte sorrateiramente puxando o tapete de nossos personagens. Na cegueira não há feio nem belo, muito menos sorrisos, sequer há lei, não nessa cegueira. Vemos o pior do ser humano, o assédio sexual, o homicídio, o estupro, a mentira e a miséria; sem poder ver, todos se tornam selvagens. Um ladrão de carro que alegava ajudar o motorista repentinamente cego tenta diminuir sua culpa ao deixar o cego em casa. Mas também adquire a doença. 
Uma rapariga em seu momento de êxtase vê-se cega e nua pelas ruas. O homem que com ela se deitou. A camareira do quarto do hotel. E tudo se reproduzindo como uma peste. No entanto, não só de males vive o mundo, no momento de completa cegueira, todos são humanos. Não interessa a profissão, razão ou segredos, todos ali são humanos e sujeitos as mesmas intempéries. Isto é, mesmo trancados em quarentena, cada um continua a querer se diferenciar do outro. Ao lado desse eu não ando, diz o motorista ao ladrão de seu carro. 
Tornam-se todos iguais quando a fome chega. O país está cego, não há governo, nem comida, os guardas com suas armas tomam-a pra si e regem com tirania. A morte vai levando vidas de pura animalidade, são seres em se estado mais primitivo, ainda que não tenha se passado tanto tempo desde o primeiro caso. Quanto tempo levaria para todos morrerem se não houvesse ajuda mútua? Quanto tempo sobreviveríamos se ninguém enxergasse o próximo? Pelos cálculos de nossa única remanescente, não muito.
A dor e a miséria humana são sorvidas aqui até a última gota. A nudez é exposta e a alma pisoteada. O único que continua a ver sem ver é o escritor. Se tudo desmorona, a imaginação é tudo que nos sobra. Saramago consegue nos fazer vibrar, temer, se emocionar e viver em uma realidade abrupta, por vezes real. Acabamos por ver que nem tudo é tão ruim quanto parece, mas que vivemos sim em um estado de cegueira. Quando vamos parar de olhar só para nosso umbigo, se achar superiores ou ignorar as mazelas do mundo? É o fardo que o autor nos joga nos ombros para refletir sobre a vida. É como já dizia meu amigo Voltaire, "Todo homem é culpado pelo bem que ele não fez".

Obs.: Saramago foi o único autor da língua portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel da Literatura.

"O medo cega... são palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegamos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos." Saramago