domingo, 20 de agosto de 2017

Tributo

Imagem relacionadaO ano era de 2009, eu era apenas uma menina de 11 anos, e muita água ainda estava para rolar nas correntezas de minha vida, porém, refletindo seriamente, hoje concluo que foi naquele ano que encontrei o amor. Era mais uma viagem de família acompanhada de amigos, uma das viagens malucas que gostamos de fazer, fomos parando em várias cidades de acordo com a vontade. Mas de todas, a que mais me apaixonei foi Goiás Velho. Curioso nome, pensei, não sabia que existia um Goiás Velho, cidade também envelhece. Mesmo sendo a antiga capital do estado de Goiás, a pequena cidade parecia bem interiorana. Praça com coreto cerca de lojinhas de souvenirs. A clássica cidade turística e pitoresca brasileira. Não esperava que fosse me descobrir naquele lugar. Porém, na manhã que visitávamos os pontos turísticos da cidade e o vi, meu mundo parou .
Estava debruçado na janela de uma casa antiga. Havia uma fila para entrar naquele casebre. Todos queriam vê-lo, e outras lembranças ligadas a ele. O busto de gesso de Cora Coralina. A expressão desenhada pelo artista na obra trazia uma paz e um brilho nos olhos que me deixou entusiasmada. Queria saber porque aquela escultura estava ali e porque todos queriam vê-la? Quem teria sido aquela mulher? Porque me senti identificada com ela instantaneamente?

Não me contive e pedi para meus pais para entrar. É claro que entramos, estávamos turistando. E eu que sempre amei museus e sempre fui curiosa não poderia sair de lá sem ver tudo. Assim o fiz, entrei com meus amigos e familiares para dentro do casebre cheio de pessoas curiosas. No entanto, nenhuma parecia tão maravilhada quanto eu. "Coração é terra que ninguém vê", ela tinha escrito. Sua casa havia se tornado museu da sua obra. Mulher simples de tudo, mas de alma tão cheia. Começara a escrever aos 8 anos seus primeiros versos, tinha escrito o primeiro livro de histórias infantis aos 11 anos. Em mim sentia uma grande compreensão do universo, nossas histórias de poesia se misturavam. Conquanto, Cora, cujo nome verdadeiro era Ana, havia apenas publicado o primeiro livro aos 76 anos. 76 anos! Isso me partiu o coração.Dei-me a notar os olhos cheios d'água. Quem seria eu nesse mundão de meu Deus para conseguir um feito melhor que aquela mulher a quem eu considerei melhor poetisa do que eu? Hoje, admito que o mundo melhorou para as mulheres, para as escritoras e sonhadoras. Admiro Cora por ter batalhado a seu tempo, por ter sido quem foi. Senti um sentimento de amor fraternal por ela a quem eu sequer conhecia. Soube que ela era doceira e dei-me a sorrir. Bebi d'água do riacho que passava por sua casa, senti-me em seu lugar por um instante. Depois, abri um sorriso para meus pais e disse: "Quero comer algum doce, podemos ir à sorveteria?" A poetisa doceira havia adoçado minha alma e coração, saí dali mais forte, mais doce e mais certa do que queria, entre todas as dúvidas no mundo tinha uma certeza: queria ser poetisa.Se chego aos pés dela eu não sei, e nem acho que importa. Se ela recebeu tudo o que merecia de sucesso não é a questão. O ponto é que devo agradecer a Cora Coralina por ter me inspirado e mostrado as mazelas da vida de escritor. Mais ainda agradeço por ter me apresentado ao meu grande amor: as P-A-L-A-V-R-A-S. Este é meu breve e humilde tributo no 128º aniversário desta grande poetisa.

Nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.” CORALINA, Cora.

Curiosidades:1970-Cora tomou posse da cadeira número 5 da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás. 
1981- Recebeu o Troféu Jaburu através do Conselho Estadual de Cultura de Goiás.
1982- Recebeu o Prêmio de Poesia em São Paulo. Pela Universidade de Goiás, Cora Coralina foi agraciada com o título de Doutora Honoris Causa.
1984- Recebeu o Troféu Juca Pato, sendo a primeira escritora do país a recebê-lo. Nesse mesmo ano, ingressa na Academia Goiânia de Letras, ocupando a cadeira número 38.
Após sua morte, a casa onde viveu os últimos anos de vida foi transformada no Museu Cora Coralina. 
Em 2001, a moradia na cidade de Goiás foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio Histórico da Humanidade.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Filme "Abril despedaçado"

Mais um belo longa recomendado pelo meu amigo cinéfilo. Assisti Abril Despedaçado em Julho, mas ainda assim despedacei meu coração. Um dos longas brasileiros mais tocantes que já contemplei. 


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Data de lançamento: 01 de maio de 2002
Duração: 1h 30min
Gênero: Drama
Nacionalidade: França, Suiça, Brasil
Sinopse: Em abril de 1910, na geografia desértica do sertão brasileiro vive Tonho (Rodrigo Santoro) e sua família. Tonho vive atualmente uma grande dúvida, pois ao mesmo tempo que é impelido por seu pai (José Dumont) para vingar a morte de seu irmão mais velho, assassinado por uma família rival, sabe que caso se vingue será perseguido e terá pouco tempo de vida. Angustiado pela perspectiva da morte, Tonho passa então a questionar a lógica da violência e da tradição.
Opinião: Cenário simples, trama tocante, atores sutis e filme impactante. No sertão, início do século XX, famílias rivais matam uma a outra em nome da honra. Entre as mortes estes propõe uma trégua, até que o sangue do morto amarele em sua roupa. Os jovens dessas famílias vão se vingando, até que chega a vez de Tonho.
Tonho não se sente confortável nessa posição, é claro. É como se ele estivesse preso naquela realidade, naquele ciclo sem fim. A princípio, o jovem parece aceitar a morte eminente e uma vida sem nunca conhecer o amor. Até que o circo chega na cidade próxima e seu irmão mais novo, sonhador, passa a o incentivar a viver e ter esperança.
A palavra esperança é o que rege o longa. Com uma diálogo simples, mais pontual, abril despedaçado realmente nos faz pensar e despedaça nossos corações. Um filme poético, delicado e humano. É maravilhoso saber que o Brasil é capaz de produzir uma obra tão instigante, com qualidade na trama, fotografia e atuação. Abra sua mente e dê espaço para o cinema brasileiro, assista Abril Despedaçado.