sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Para todas as vezes que quiser desistir

2017 foi uma grande lição de amadurecimento para minha vida. Foi o ano em que pude enfim pôr em prática a ideia de mais amor e menos medo. Afinal, se não é o medo o inimigo da felicidade, quem mais seria? E se não é o amor o companheiro fiel da plenitude, quem é?
Esse ano aconteceu muita coisa, sinceramente, coisas que eu não esperava ou sabia como seria no início do ano. Foi o ano em que comecei a estudar francês, participei do meu primeiro projeto de pesquisa, escrevi meu primeiro artigo, entrei para um projeto de extensão - uma Empresa Junior linda,  comecei a estagiar e agora na reta final adentrei no mundo do Centro Acadêmico. Mas vamos parar por aqui, pois apesar disso ser uma espécie de diário, creio minha vida acadêmica não seja tão interessante assim.
Sobre a vida pessoal no aspecto escrita, devo pedir perdão por me manter um pouco afastada do Blog, porém foi por um bom motivo, estive em foco no meu livro: O MURO INVISÍVEL. Trabalhar em um livro é mais delicado do que parece e exige um grande desprendimento emocional. Isto é, porque os medos e inseguranças que rodeiam esse ato, além do auto-criticismo eterno, são enlouquecedores. Mesmo assim me desafiei a publicá-lo via digital, e estou trabalhando para algo a mais, em breve mais notícias... Se alguém se sentir curioso, pode dar uma explorada na aba aqui no blog e conferir na Amazon a amostra grátis.
Mas vamos logo falar da vida pessoal emocional que é o tópico principal desse texto. Esse ano iniciou-se com um excelente diálogo com grandes amigos, o que já uma grande coisa para um ano. Depois, deu-se em uma viagem muito boa e ainda encontrou o seu raiar em assistir La La Land logo na pré estreia. "City of Stars are you shining just for me?". Essa música foi o embalar de um ano cheio de promessas e iluminado pelo brilho das estrelas, mesmo que no final de tudo quem ganhasse o Óscar de verdade fosse Moon Light, uma das cenas mais impagáveis de 2017. Nessa toada, ainda pude desfrutar de amizades muito sinceras, dias de brincadeira e muitos churros. Tudo isso nos três primeiros meses, que se resumiram a:  o valor das amizades sinceras e de ver a beleza nas pequenas coisas é inestimável.
Abril marcou-se como o mês em que tive o prazer de assistir e conhecer "Star Wars", pois é, demorei 19 anos, perdoem-me amigos, mas estou correndo atrás do prejuízo. Não suficiente, nesse mês e no início do próximo obtive a chance de lançar minha primeira poesia em uma antologia ( Além da Terra, Além do Céu). Também foi o mês em que conclui que meias palavras não bastavam, que certas coisas jamais poderiam ser expressas apenas em palavras. Maio e Junho foram meses de desafios, superações e grandes reflexões. Graças a esse tempo alcancei a plenitude emocional necessária para os meses seguintes. Às vezes é preciso parar e refletir sobre nossa vida para abrir caminho para um maravilhoso futuro.
Julho foi quando me propus a novos desafios e tratei de me empenhar de vez a quebrar os muros invisíveis. Agosto, o mês de trabalhar, de enfrentar o medo da vida adulta e de lidar com as responsabilidades. Por isso, só me coube agradecer. Setembro foi época de superações e aprender a amar e ser amado. Outubro, o mês de colher os frutos. Novembro, o de me arriscar e me propor a novos desafios, mais uma vez, mesmo para esses fosse preciso realizar críticas profundas. Dezembro, o mês de viver, cada pessoa, cada momento, cada realização, cada minuto de dedicação e cada medo superado. Mas de tudo, o mais importante nesse ano foram as pessoas quem conheci ou convivi.
2017 foi ano de plantar e colher, de se superar, de se arriscar, de viver! Portanto, a única razão de eu estar contando até as partes menos interessantes do meu ano é para dizer que a vida tem muita coisa boa para nos dar. A maior parte delas depende apenas de aprendermos a amar a vida e as pessoas que nos cercam. A felicidade é muito mais questão de amor e de estar sempre se desafiando. Não tema  fazer tudo que tem vontade, se isso não te faz mal ou fere outrem. Algumas coisas dizem respeito apenas a nós mesmos. Portanto, esse texto é para todas as vezes que quiser desistir. Um dia, você vai ser muito feliz, se já não é, e vai querer espalhar isso por todos lugares que passar, não desista.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Sobre os livros de 2017

Mais uma vez, estamos na reta final do ano e nada melhor do que trazer um feedback de todos os livros lidos durante 2017 Cada obra possuiu  sua importância e agregou de alguma forma minha pessoa. Este ano foram menos livros não ligados a minha profissão, porém, os que pude apreciar muito me agregaram. Desejo que apreciem a lista e se lhe interessar desfrutem de alguma leitura desses livros!












Comentário: Saramago era um autor que já me chamava atenção há anos através de inúmeras críticas literárias, mas nada muda a emoção e peso em ler uma de suas mais profundas obras.
Autores do ano: Saramago e Bauman
Comentário: Simplesmente por terem sido os autores que mais me fizeram pensar nesse ano e por ter conhecido várias pessoas que apreciavam suas obras, o que me proporcionou conversas maravilhosas.
Personagem favorita: "A mulher do médico" (Ensaio sobre a Cegueira- Saramago
Comentário: A plenitude da força, sabedoria e humanidade representadas da mais bela forma.
rie do Ano: Série "O Guia do mochileiro das galáxias"
Comentário: Porque claramente que a reposta para a pergunta mais importante do universo é 42, não sei porque os filósofos ainda discutem!
     Terminei rápido: O conto da ilha desconhecida - Saramago
       Comentário: Que história e quantas lições em tão poucas páginas!
     Demorei para ler: Um filósofo no ninho - Carlos Eduardo Doné
Comentário: Considerando o tempo livre para ler, eu demorei mais do que o previsto, o livro é muito denso e as críticas ácidas precisam de um tempo para serem digeridas.
      Chorei: Vá, coloque um vigia! -Harper Lee
Comentário: Harper é tão maravilhosa que nem acredito que só tenha dois livros. Se tem alguém que me faz chorar é essa mulher.
Ri muito: O Guia do Mochileiro das Galáxias -Douglas Adams
Comentário: Douglas Adams é comediante né, como esperar menos?
Chorei e ri: Magnus Chase - Rick Riordan
Comentário: Titio Rick sempre se superando não é mesmo?
Personagens com quem me identifiquei: Jean Finch  (Vá, coloque um vigia - Harper Lee)
Comentário: Mulher, estudante de direito, crítica, política, forte... Preciso dizer mais alguma coisa? 
Melhor final: "Ensaio sobre a cegueira- Saramago"
Comentário: Meu favoritinho...
Pior final: O orfanato da Srta. Peregrine para crianças peculiares - Ransom Rigs
Comentário: Eu vi o filme antes, admito, mas não creio que seja só por isso. Ao fim do livro senti que faltou algo, não tinha tanta vontade de continuar a série.
Decepcionante: Viagem ao centro da terra - Verne
Comentário: Aquele clássico que inspirou filmes e a literatura moderna, mas acaba sendo simples demais para nós bombardeados de referências.
Surpreendente: Memórias do subsolo - Dostoiévski
Comentário: Sempre falaram que o livro era muito denso ou triste, mas apenas achei um livro sensível e realista, que particularmente gostei.
Casal favorito: "Mara e Francismo" ("O sol depois da chuva"- Gabriel Chalita
Inspirador: Como vejo o mundo - Albert Einstein & Sejamos todos feministas - Chamamanda Ngozi & Terra dos Homens- Antoine de Saint-Exupéry
Comentário: Inspiração pra vida e para nos tornamos pessoas melhores.


sábado, 18 de novembro de 2017

Carta aberta sobre : Artes, censura e objetificação do ser humano

Depois de vários dias procrastinando e pensando em como falar sobre esse assunto, decidi me manifestar. Nos últimos meses vimos várias causas de repercussão geral que abordam direitos e aspectos sobre a sexualidade humana. Desde já, é importante frisar que não sou especialista na área, quiça venho para condenar ou julgar quem apoiou ou deixou de apoiar o movimento das massas. Mas venho apresentar três situações das quais precisamos falar: A censura à exposição Queer em um museu do RS, a polêmica acerca da apresentação "La bête" no MASP, e a proposta de PEC vedando o aborto de forma absoluta.
Primeiro, ao falar sobre a exposição Queer é preciso deixar de lado qualquer ideologia ou posicionamento político que nos limite a análise. Aqui se trata de simples liberdade de expressão, arte como crítica social e falta de classificação indicativa de exposições. A princípio, alegou-se que o cancelamento da exposição seria para defender os pequenos e contra pedofilia e zoofilia. O mais curioso é que em uma análise rápida as imagens já ficamos reflexivos com de que forma aquela arte instigaria a prática desses atos, quando na verdade pareciam mais críticas do que incitações, digo do ponto de vista artístico. Assim, parece precário dizer que qualquer arte mal interpretada deva ser censurada.
Proteger as crianças é essencial, inclusive dos programas televisivos que passam cada vez mais cedo e com classificação indicativa questionável. Seria interessante sim visar uma classificação dessas exposições, porém, os pais devem se lembrar de que essa instrução parte principalmente da família. Logo, quem deve peneirar e instruir é esta, de modo a não jogar tudo nas costas do estado. 
Outra apresentação artística criticada por sua vez foi a do artista nu representado uma releitura como obra viva de "Bicho" da artista Lygia Clark, com uma reflexão interessantíssima. Porém, como sempre, mal interpretada. Alguém, filmou uma criança, acompanhada da mãe, participando da interação e jogou na internet. Será tão perturbador mostrar as nossos crianças a naturalidade do corpo humano e o respeito ao mesmo? Não é mais pertubador o endeusamento e objetificação de nossos corpos perpetuado nas mídias em vários sentidos, que abrem brecha para estupros, problemas na área afetiva e sexual ou ainda a hiperssexualzação infantil que ainda existe na nossa sociedade? Talvez por desde cedo ter aprendido na aula de artes que "a maldade está nos olhos de quem vê" quando abordado a questão do nu, a visão de quem escreve seja tão naturalista. Ou talvez apenas por receio e incomodo de que certas situações do período de ditadura de censura as artes estejam voltando sem razão de ser. 
Nosso século XXI, parece demonstrar tanto retrocesso que não satisfeitos com a objetificação dos corpos, censura da arte e da crítica, desejam mandar neles. Pior ainda, solapar direitos já consolidados como o do aborto em risco de vida e estupro. Se em 1940 o legislador já entendia essas situações como claramente pessoais a mulher, quem são um punhado de homens para 80 anos depois afrontarem tudo? A meu ver, esta PEC por sua vez não há de passar, o que claro, seria como rasgar a própria constituição.
Parece-me que não é a sociedade que tem estado tão mais libertária, feminista, excêntrica ou semelhantes, mas que nossas dicotomia política está arrasadora. Briguinhas estupidas e posicionamento ignorantes de uma sociedade que não aprendeu a pensar. Países como a França aprenderam a lidar com essas questões há anos, e sabemos que ao menos esses direitos se consolidaram. Enquanto isso, o Brasil aterra e ri das artes, a pornografia (porque em grande parte das situações nem erotismo é) das artes do Brasil é escancarada e ninguém a questiona. Mas quando a transformamos em crítica social parece o que a situação muda de figura.  Estamos com medo ou apenas assustados pelo que não conhecemos, pelo receio de acabar com a pornografia explícita, objetificação dos corpos, sexualização da mulher e toda a construção do patriarcado remanescente?


Links interessantes:
http://veja.abril.com.br/blog/rio-grande-do-sul/veja-imagens-da-exposicao-cancelada-pelo-santander-no-rs/#
https://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais/apos-polemica-ministerio-publico-investiga-mostra-no-museu-de-arte-moderna-de-sao-paulo-21892435
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/11/10/pec-que-proibe-aborto-pode-ser-pautada-para-votacao-em-comissao-do-senado

terça-feira, 31 de outubro de 2017

A Vila


Data de lançamento: 03 de setembro de 2004
Duração: 1h 48min
Gênero: Fantasia, suspense
Direção: M. Night Shyamalan
Nacionalidade: EUA
Sinopse: Em 1897 uma vila parece ser o local ideal para viver: tranquila, isolada e com os moradores vivendo em harmonia. Porém este local perfeito passa por mudanças quando os habitantes descobrem que o bosque que o cerca esconde uma raça de misteriosas e perigosas criaturas, por eles chamados de "Aquelas de Quem Não Falamos". O medo de ser a próxima vítima destas criaturas faz com que nenhum habitante da vila se arrisque a entrar no bosque. Apesar dos constantes avisos de Edward Walker (William Hurt), o líder local, e de sua mãe (Sigourney Weaver), o jovem Lucius Hunt (Joaquin Phoenix) tem um grande desejo de ultrapassar os limites da vida rumo ao desconhecido. Lucius é apaixonado por Ivy Walker (Bryce Dallas Howard), uma jovem cega que também atrai a atenção do desequilibrado Noah Percy (Adrien Brody). O amor de Noah termina por colocar a vida de Ivy em perigo, fazendo com que verdades sejam reveladas e o caos tome conta da vila.

A Vila : FotoOpinião: Ambiente tenso, silêncio e uma pequena vila atormentada por criaturas estranhas. Ninguém sai da vila, de tanto medo de encontrá-las e ser devorado. Vários animais já morreram e só os sons dessas criaturas é perturbador. Mas é claro, como todo filme precisa de uma reviravolta, teremos uma jovem corajosa o suficiente para atravessar a floresta que os cerca, em nome do amor. Detalhe é dizer que nossa jovem protagonista é uma menina cega, que por não ver, não se assusta tanto. (Será que não tememos o que não vemos?).

Em clima de Halloween, vale mencionar que A Vila não é um filme essencialmente de terror, mas de suspense. É claro, levamos alguns sustos durante o longa, como em qualquer filme desse teor, que sejam de qualidade. Ainda, sobre a qualidade do mesmo, é pertinente mencionar a brilhante atuação da nossa jovem protagonista. E do elenco em geral. Imagem, som e figurino, ajudam a construir essa vila assombrada e isolada do mundo.
Porém, de tudo, o melhor do filme é sem dúvidas o roteiro. A trama traz com maestria todos os fatores necessários para uma boa obra, romance, clímax, reflexão e crítica social. Sem muito mais informações, e nenhum spoiler, recomendo que assistam A Vila, preparem seus corações e apreciem essa interessante e um pouco assustadora obra da sétima arte.

domingo, 15 de outubro de 2017

Professor

É aquele que ensina o b-a ba...
Apresenta a nossa língua...
E que conjuga o verbo amar...

Ou que explica polinômio...
E triângulo nos ensina a fazer...
Os desafios da vida nos apoia vencer...

Mostra como somos por dentro...
Faz da nossa saúde cuidar...
E nos explica como são nossos sentidos...

A produzir textos está pronto a ajudar...
Faz-nos estudar a história do mundo...
E o “segredo” dos mapas desvendar...

Esportes diferentes nos faz jogar...
A descobrir a arte interior ensina...
Línguas estrangeiras querem mostrar...

Então professor, obrigado por você existir...


Giovana de Carvalho Florencio
*Poesia escrita em 2011, na doçura de meus 12 anos








sábado, 30 de setembro de 2017

Terra dos Homens- Antoine de Saint-Exupéry

Terra Dos HomensEditora: Nova Fronteira
Ano: 2016
Páginas: 152
Idioma: Português 

Sinopse: Em “Terra dos homens”, Saint-Exupéry relata, por meio de uma narrativa fluida e instigante, suas memórias de piloto do correio aéreo francês, as aspirações em sua perigosa profissão e o dia a dia com outros pilotos e amigos, além de descrever suas impressões sobre o mundo e o papel que o homem nele desempenha — pensamentos construídos sob a ótica elevada de quem sempre observou tudo do mais fascinante e particular ponto de vista: as nuvens. Unindo realidade ao lúdico, o factual ao filosófico, “Terra dos homens” discute temas como a amizade, o heroísmo, a morte e a eterna busca por um significado para a vida.

Opinião: Depois de ler "O Pequeno Príncipe", admito, não fui mais a mesma. Foi como se finalmente tivesse achado algo que explicasse meus sentimentos. Como se por um instante pudesse voltar a ser criança. Logo que soube dessa outra obra de Saint-Exupéry, não pude deixar de conhecê-la. Nesse livro autobiográfico, o escritor e piloto nos conta sobre sua experiência nos ares e fora deles. Também sobre o tempo que ficou no deserto do Saara, então podemos ver como esse tempo o influenciou na escrita de seu Magnum Opus. Antoine era um homem que sempre estava com a cabeça nas nuvens, não só por sua profissão como metaforicamente. Enquanto não estava nos ares, estava pensando no ser humano e na vida, e claro, escrevendo. Conhecemos sua faceta e sua curiosidade com os desenhos, o que claramente inspirou o trecho do desenho do carneiro de "O Pequeno Príncipe". Um homem que conheceu diversos povos, culturas e viu a guerra de perto. 
Aqui não temos uma história linear, mas sobre os momentos em que paramos para observar as plantas crescerem, uma mãe amamentar seu filho, que olhamos o pôr do sol... Antoine se incomoda com a miséria humana e sente que somos todos seres cheios de potencial, muitas vezes relegados. Em seu trajeto da Europa para a África e América do Sul encontrou o contraste de cultura e desigualdade social. Curioso capítulo é no qual narra sua forma de lidar com a religião muçulmana tão diversa da sua.
O livro traz reflexões atemporais, por exemplo, sobre a tecnologia, no caso o avião como seu instrumento de trabalho, e a essência da vida.  A sua dualidade entre a vida como meio para o mesmo fim, a paz, o amor e a felicidade, nos mostra uma pessoa muito bem resolvida e objetiva. Por fim, concluo com uma das frases que mais me impactou desse pequeno livro:"Sempre me pareceu que as pessoas que se horrorizam muito muito com nossos progressos técnicos confundem o fim com o meio. Na verdade, quem luta apenas na esperança de bens materiais não colhe nada que valha a pena viver".


domingo, 17 de setembro de 2017

Você merece!

Tenho percebido todos os dias que dar e receber amor é mais difícil do que parece. A entrega diária de si mesmo e o relacionar-se com 7 bilhões de indivíduos, de forma metafórica, é claro, pode ser bastante desgastante. Quando pensamos como amamos tantas pessoas ao nosso redor e porque não sabemos o que fazer para demonstrar o amor, surge aquele sentimento de impotência, insuficiência. Mas não se cobre tanto, é humanamente impossível dar atenção o tempo todo para todos ao nosso redor. Como poderíamos então demonstrar nossos sentimentos em um mundo no qual o relógio palpita sobre escrivaninha?
Relacionamentos pessoais de um modo geral exigem muito de nós. Não é por menos que um número expressivo de casamentos, namoros e amizades tem sucumbido ao fracasso, seja pelas diferenças, medos ou distâncias. No entanto, isso não quer dizer que sejam - ou tenham sido- menos valiosos. Apenas diz que o óbvio, a pressão psicológica pode esmagar nossos relacionamentos a qualquer minuto. Obs.: Desconfigure do cérebro a ligação de relacionamento a algo de cunho conjugal, estamos vendo algo muito mais amplo.
Mais complexo ainda isso se torna quando mencionamentos as diferenças de personalidade. Uma pessoa introvertida, por exemplo, pode muito bem ser falante, receptiva e até viver cercada de pessoas, e nem por isso deixará de ser quem é, dentro de si existem alguns limites a serem respeitados. O que configura uma pessoa como introvertida, pelo menos segundo a teoria de Jung, é o fato de que ela demanda sempre de um tempo sozinha para "recarregar as baterias".E
nquanto isso, os extrovertidos precisam e querem o contato humano, a companhia é o que os anima. Imagine o quão desgastante é para um introvertido explicar para um extrovertido que ele querer ficar sozinho não significa falta de amor...  Isso só para começo de conversa.
É claro que um introvertido gosta da companhia dos outros, mas isso demanda de si. Porém, o extrovertido também precisará demandar de si o respeito ao espaço pessoal do outro para que esse relacionamento prospere. E então enxergamos o fato, amar e dar amor é um comprometimento pessoal, no qual estamos em constante evolução, a cada instante nos expressamos de um jeito particular metamórfico. E entender isso demanda muita maturidade.
Contudo, precisamos compreender tudo isso para aprender a dar e receber o amor. Estamos cercados de pessoas que gostam e reparam em nós, nos admiram, e também de pessoas que verdadeiramente nos amam. Não podemos fechar nossa mente para uma expectativa e nos esquecer da realidade. Do contrário, temos de aprender a receber o amor na forma que ele aparece. Leia-se aqui, amor não quer dizer abuso. Ou seja, nós não conhecemos a vivência de cada um para julgar sua expressão de amor, uma pessoa pode gostar mais de abraços, outra de presentear, outra sorri de longe, e todos são modos de amar. 
Aprender a receber o amor quer dizer aceitar elogios, mesmo que te deixem sem graça, ou você esteja naqueles dias em que nada faz sua autoestima melhorar. Ainda estou aprendendo também a expressar o que sinto, a elogiar e ser sincera sobre meus sentimentos. Aprendendo também a aceitar quando me chamam de "bonita". Aprendendo a acreditar nos elogios, porque isso não é ser iludida, isso é dar uma chance para si mesmo e receber o amor que você merece! Eu sei, todos já nos ferimos de algum modo em algum momento. Pensamos que fomos feitos de bobo e que nada valeu a pena. Mas como já dizia meu amigo poeta: "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena". (PESSOA, Fernando)
Guardar amor a sete chaves não faz bem para ninguém. Um dia vamos todos morrer, enquanto isso, temos todo tempo do mundo para espalhar amor. Não quer dizer que precisamos deixar nossa essência, ou personalidade ou qualquer outra coisa, de outro modo, significa crescer emocionalmente. Maturidade emocional não tem a ver com idade, mas com a compreensão das diferenças entre os seres humanos ao nosso redor, com respeito ao mundo de um modo geral, com entender que não estamos sozinhos e acima de tudo, com o autoconhecimento. Esse não foi apenas mais um texto de auto-ajuda da internet, esse é um convite, para você se permitir amar e ser amado, afinal, você merece!

domingo, 20 de agosto de 2017

Tributo

Imagem relacionadaO ano era de 2009, eu era apenas uma menina de 11 anos, e muita água ainda estava para rolar nas correntezas de minha vida, porém, refletindo seriamente, hoje concluo que foi naquele ano que encontrei o amor. Era mais uma viagem de família acompanhada de amigos, uma das viagens malucas que gostamos de fazer, fomos parando em várias cidades de acordo com a vontade. Mas de todas, a que mais me apaixonei foi Goiás Velho. Curioso nome, pensei, não sabia que existia um Goiás Velho, cidade também envelhece. Mesmo sendo a antiga capital do estado de Goiás, a pequena cidade parecia bem interiorana. Praça com coreto cerca de lojinhas de souvenirs. A clássica cidade turística e pitoresca brasileira. Não esperava que fosse me descobrir naquele lugar. Porém, na manhã que visitávamos os pontos turísticos da cidade e o vi, meu mundo parou .
Estava debruçado na janela de uma casa antiga. Havia uma fila para entrar naquele casebre. Todos queriam vê-lo, e outras lembranças ligadas a ele. O busto de gesso de Cora Coralina. A expressão desenhada pelo artista na obra trazia uma paz e um brilho nos olhos que me deixou entusiasmada. Queria saber porque aquela escultura estava ali e porque todos queriam vê-la? Quem teria sido aquela mulher? Porque me senti identificada com ela instantaneamente?

Não me contive e pedi para meus pais para entrar. É claro que entramos, estávamos turistando. E eu que sempre amei museus e sempre fui curiosa não poderia sair de lá sem ver tudo. Assim o fiz, entrei com meus amigos e familiares para dentro do casebre cheio de pessoas curiosas. No entanto, nenhuma parecia tão maravilhada quanto eu. "Coração é terra que ninguém vê", ela tinha escrito. Sua casa havia se tornado museu da sua obra. Mulher simples de tudo, mas de alma tão cheia. Começara a escrever aos 8 anos seus primeiros versos, tinha escrito o primeiro livro de histórias infantis aos 11 anos. Em mim sentia uma grande compreensão do universo, nossas histórias de poesia se misturavam. Conquanto, Cora, cujo nome verdadeiro era Ana, havia apenas publicado o primeiro livro aos 76 anos. 76 anos! Isso me partiu o coração.Dei-me a notar os olhos cheios d'água. Quem seria eu nesse mundão de meu Deus para conseguir um feito melhor que aquela mulher a quem eu considerei melhor poetisa do que eu? Hoje, admito que o mundo melhorou para as mulheres, para as escritoras e sonhadoras. Admiro Cora por ter batalhado a seu tempo, por ter sido quem foi. Senti um sentimento de amor fraternal por ela a quem eu sequer conhecia. Soube que ela era doceira e dei-me a sorrir. Bebi d'água do riacho que passava por sua casa, senti-me em seu lugar por um instante. Depois, abri um sorriso para meus pais e disse: "Quero comer algum doce, podemos ir à sorveteria?" A poetisa doceira havia adoçado minha alma e coração, saí dali mais forte, mais doce e mais certa do que queria, entre todas as dúvidas no mundo tinha uma certeza: queria ser poetisa.Se chego aos pés dela eu não sei, e nem acho que importa. Se ela recebeu tudo o que merecia de sucesso não é a questão. O ponto é que devo agradecer a Cora Coralina por ter me inspirado e mostrado as mazelas da vida de escritor. Mais ainda agradeço por ter me apresentado ao meu grande amor: as P-A-L-A-V-R-A-S. Este é meu breve e humilde tributo no 128º aniversário desta grande poetisa.

Nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.” CORALINA, Cora.

Curiosidades:1970-Cora tomou posse da cadeira número 5 da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás. 
1981- Recebeu o Troféu Jaburu através do Conselho Estadual de Cultura de Goiás.
1982- Recebeu o Prêmio de Poesia em São Paulo. Pela Universidade de Goiás, Cora Coralina foi agraciada com o título de Doutora Honoris Causa.
1984- Recebeu o Troféu Juca Pato, sendo a primeira escritora do país a recebê-lo. Nesse mesmo ano, ingressa na Academia Goiânia de Letras, ocupando a cadeira número 38.
Após sua morte, a casa onde viveu os últimos anos de vida foi transformada no Museu Cora Coralina. 
Em 2001, a moradia na cidade de Goiás foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio Histórico da Humanidade.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Filme "Abril despedaçado"

Mais um belo longa recomendado pelo meu amigo cinéfilo. Assisti Abril Despedaçado em Julho, mas ainda assim despedacei meu coração. Um dos longas brasileiros mais tocantes que já contemplei. 


Imagem relacionada
Data de lançamento: 01 de maio de 2002
Duração: 1h 30min
Gênero: Drama
Nacionalidade: França, Suiça, Brasil
Sinopse: Em abril de 1910, na geografia desértica do sertão brasileiro vive Tonho (Rodrigo Santoro) e sua família. Tonho vive atualmente uma grande dúvida, pois ao mesmo tempo que é impelido por seu pai (José Dumont) para vingar a morte de seu irmão mais velho, assassinado por uma família rival, sabe que caso se vingue será perseguido e terá pouco tempo de vida. Angustiado pela perspectiva da morte, Tonho passa então a questionar a lógica da violência e da tradição.
Opinião: Cenário simples, trama tocante, atores sutis e filme impactante. No sertão, início do século XX, famílias rivais matam uma a outra em nome da honra. Entre as mortes estes propõe uma trégua, até que o sangue do morto amarele em sua roupa. Os jovens dessas famílias vão se vingando, até que chega a vez de Tonho.
Tonho não se sente confortável nessa posição, é claro. É como se ele estivesse preso naquela realidade, naquele ciclo sem fim. A princípio, o jovem parece aceitar a morte eminente e uma vida sem nunca conhecer o amor. Até que o circo chega na cidade próxima e seu irmão mais novo, sonhador, passa a o incentivar a viver e ter esperança.
A palavra esperança é o que rege o longa. Com uma diálogo simples, mais pontual, abril despedaçado realmente nos faz pensar e despedaça nossos corações. Um filme poético, delicado e humano. É maravilhoso saber que o Brasil é capaz de produzir uma obra tão instigante, com qualidade na trama, fotografia e atuação. Abra sua mente e dê espaço para o cinema brasileiro, assista Abril Despedaçado.


terça-feira, 25 de julho de 2017

Poesia de vida- (Dia do Escritor)


Da vida, a poesia é a maior fantasia
Encanto dos meus dias e alegrias
Palavras semeadas em línguas, gesto e ação
Poesia é um ato de amor e pura gratidão
Viva a vida! Grata seja pela poesia

Semeia sementes de recantos em cantos
Sinta a vida em uma inspiração constante
Os batuques e acordes vão lentamente vibrando
Rodam as manivelas dessa vida infante
Drama dessa minha alma aos berrantes

Fluxos de palavras a tambolirarem venéreas
Negras de amores a rentes almas esféricas
Beija-flores a janela sugam o néctar das flores
E a chuva pasma que cai desmorona os amores
Reinações de narizinhos a poetizar as cores

Sem certezas ou dúvidas, sou como uma via crucis
Sou o tintilar do vidro ao render-se ao duro chão
Sou o mundo, sou a mágoa, a eterna solidão
As palavras me são faca para matar minha paixão
A paixão desmedida pela beleza da poesia e suas cruzes
Giovana de Carvalho Florencio


sábado, 15 de julho de 2017

Resenha- Ensaio sobre a cegueira

Ensaio Sobre A CegueiraEditora: Companhia das Letras
Ano:  1995
Páginas: 310
Idioma: Português 

Sinopse: Um motorista parado no sinal se descobre subitamente cego. É o primeiro caso de uma "treva branca" que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos se perceberão reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas.
O "Ensaio sobre a cegueira" é a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti. Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".

Opinião: Saramago estava na minha lista já fazia um bom tempo, ainda mais depois de que assisti o filme dessa belíssima obra. Imaginei que se o longa tinha a capacidade de me fazer sentar na cama e refletir sobre a vida, o que faria o livro? Por isso me preparei e digeri aos poucos esse importante ensaio sobre a cegueira humana. Afinal, o que é ser cego? A cegueira aparece aqui como a protagonista da história, doença que se alastra e contamina a todos, sobrando apenas uma pessoa sã. Como ela poderia ajudar os outros?
Entrar na obra e conhecer o máximo da miséria humana aos olhos de uma única pessoa sã, nos faz refletir sobre o sentimento de impotência que por vezes nos assola. Um motorista fica inexplicavelmente cego enquanto observa o sinal vermelho, consulta um médico, que por sua vez fica com o mesmo mal. E de igual modo, todos os pacientes daquele dia. A esposa do médico, sem temer, vai junto ao esposo para a quarentena, alegando estar cega. A cegueira branca não parecia ter explicação na medicina, talvez fosse algo psicológico, mas como assolaria tantas pessoas assim? Isso é, todos, menos a esposa do médico.
Na quarentena vemos de tudo, desde a fome, o instinto materno de uma jovem para com um menininho estrábico, o amor desta por um velho, um casal lutando para ficar junto e a morte sorrateiramente puxando o tapete de nossos personagens. Na cegueira não há feio nem belo, muito menos sorrisos, sequer há lei, não nessa cegueira. Vemos o pior do ser humano, o assédio sexual, o homicídio, o estupro, a mentira e a miséria; sem poder ver, todos se tornam selvagens. Um ladrão de carro que alegava ajudar o motorista repentinamente cego tenta diminuir sua culpa ao deixar o cego em casa. Mas também adquire a doença. 
Uma rapariga em seu momento de êxtase vê-se cega e nua pelas ruas. O homem que com ela se deitou. A camareira do quarto do hotel. E tudo se reproduzindo como uma peste. No entanto, não só de males vive o mundo, no momento de completa cegueira, todos são humanos. Não interessa a profissão, razão ou segredos, todos ali são humanos e sujeitos as mesmas intempéries. Isto é, mesmo trancados em quarentena, cada um continua a querer se diferenciar do outro. Ao lado desse eu não ando, diz o motorista ao ladrão de seu carro. 
Tornam-se todos iguais quando a fome chega. O país está cego, não há governo, nem comida, os guardas com suas armas tomam-a pra si e regem com tirania. A morte vai levando vidas de pura animalidade, são seres em se estado mais primitivo, ainda que não tenha se passado tanto tempo desde o primeiro caso. Quanto tempo levaria para todos morrerem se não houvesse ajuda mútua? Quanto tempo sobreviveríamos se ninguém enxergasse o próximo? Pelos cálculos de nossa única remanescente, não muito.
A dor e a miséria humana são sorvidas aqui até a última gota. A nudez é exposta e a alma pisoteada. O único que continua a ver sem ver é o escritor. Se tudo desmorona, a imaginação é tudo que nos sobra. Saramago consegue nos fazer vibrar, temer, se emocionar e viver em uma realidade abrupta, por vezes real. Acabamos por ver que nem tudo é tão ruim quanto parece, mas que vivemos sim em um estado de cegueira. Quando vamos parar de olhar só para nosso umbigo, se achar superiores ou ignorar as mazelas do mundo? É o fardo que o autor nos joga nos ombros para refletir sobre a vida. É como já dizia meu amigo Voltaire, "Todo homem é culpado pelo bem que ele não fez".

Obs.: Saramago foi o único autor da língua portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel da Literatura.

"O medo cega... são palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegamos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos." Saramago




quinta-feira, 29 de junho de 2017

O que os olhos não vêem, coração não sente


Resultado de imagem para cegueiraJá faz tempo que não abordo sobre política ou situações de mazelas sociais, mas isso é por uma razão. Em parte, pelo que acredito ser o mesmo motivo de grande parte da população, estamos saturados de ver e viver injustiças e conflitos. E quanto mais saturados ficamos mais ignoramos a realidade para viver em nosso próprio mundo. E isso é muito triste.
Se tornou tortuoso assistir o jornal e perceber uma tragédia atrás da outra. Se você pensa que no Brasil a situação está ruim, e realmente está, imagine no resto do mundo. O Estado Islâmico não deixou de existir, a Síria continua em conflito, os refugiados de guerra continuam em situação precária, o infanticídio ainda não cessou na China, nem a mutilação genital na África, inclusive o trabalho escravo ou análogo a escravidão ainda existe no Brasil e pelo mundo. Nós apenas tentamos 'ignorar' para sobrevivermos e não enlouquecer.
No entanto uma, reflexão pessoal e coletiva é sobre não nos isolarmos. Nem deixar que o conforto ou a estabilidade alcançada nos tire da realidade. O mundo é mais do que direita e esquerda, ocidente ou oriente, ou exatas e humanas. Não é porque não vemos as mazelas, ou porque só ouvimos falar delas na mídia que estas não existam.
O que os olhos não veem, coração não sente? Talvez o ditado fale a verdade, precisamos olhar além para compreender. Aceitar nossas impossibilidades, sem nos conformarmos. Eu não sou Mahatma Gandhi nem Nelson Mandela, sou o que sou, e com isso posso influenciar o mundo. Afinal, esse texto é também para mim, Como disse o meu caro Saramago em sua obra Ensaio Sobre a Cegueira, "Se queres ser cego, sê-los-ás."

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Crítica- Capitão Fantástico

Mais uma recomendação de um caro amigo, Capitão Fantástico é um filme recente que não foi tão comentado assim, porém, eu acredito que deveria ser. A história de uma família nada convencional nos faz refletir sobre a forma como vivemos e sobre o modo educacional predominante. Esse longa me fez refletir bem mais do que eu poderia esperar, e espero que também te faça.





Capitão Fantástico : PosterData de lançamento: 22 de dezembro de 2016 
Duração: 1h 58min
Gênero: Comédia dramática
Nacionalidade: EUA
Sinopse: Ben (Viggo Mortensen) tem seis filhos com quem vive longe da civilização, no meio da floresta, numa rígida rotina de aventuras. As crianças lutam, escalam, leem obras clássicas, debatem, caçam e praticam duros exercícios, tendo a autossuficiência sempre como palavra de ordem. Certo dia um triste acontecimento leva a família a deixar o isolamento e o reencontro com parentes distantes traz à tona velhos conflitos.

Opinião: É fascinante observar esse longa, o qual consegue consegue transparecer um pouco de cada personagem. Além da fotografia, cenário e trilha sonora, Capitão Fantástico  é um dos longas de road movie mais interessantes dos últimos tempos. Com um toque de drama sem perder a comédia, o filme independente nos traz um clima meio indie cheio de sensibilidade e reflexões.
Ora, você deve estar pensando no porquê resolvi inverter a ordem da crítica e e iniciar pela análise técnica e não do enredo. É porque é exatamente isso que o filme propõe, sair do habitual e refletir. O longa não mostra um certo ou errado, mas o diferente. Conhecemos um pai e seus seis filhos tendo de sair da floresta em que viviam par ir ao enterro da falecida esposa e mãe.
Antes de qualquer outra coisa, é preciso explicar a forma com que essa família vivia. Ben e sua esposa tinham decidem criar os filhos afastados do mundo consumista e da civilização. Eles ensinam os filhos valores próprios, a independência, caçando, criando suas próprias interpretações das coisas, lendo de física quântica a filosofia. Porém, o mais interessante é que em várias cenas vemos nosso protagonista tratando os filhos como iguais, com honestidade e às vezes até escancarando a verdade.
Com críticas de como nosso modo de educação não explora a inteligência e até nos limita versus os exageros da criação de Ben quanto aos filhos, Capitão Fantástico mexe com a nossa cabeça.  Ele nos mostra a importância da educação e da criatividade para nós como ser humano e não apenas como massa de manobra da sociedade, apesar de que Ben ao isolar os filhos acabe privando estes das relações pessoais e de experiências práticas. Não bastasse a reflexão educacional, o choque de realidade dos valores dessa família atinge as mais variadas temáticas, desde a forma com que lidamos com a morte e até com o amor. É maravilhoso ver um filme que nos apresenta pontos de vista diferentes e não antagoniza nenhum personagem. Aqui todos são seres humanos, buscando o melhor, dentro de seus próprios limites. Se ficou instigado, abra sua mente e conheça esse longa fantástico.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Vá, Coloque um Vigia

Vá, Coloque Um Vigia
Editora: José Olympio
Ano: 2015
Páginas: 252
Idioma: Português 

Sinopse: Segundo romance de Harper Lee, que bateu recorde de número de exemplares vendidos em um só dia superando O símbolo perdido, de Dan Brown. 

Jean Louise Finch, mais conhecida como Scout, a heroína inesquecível de O sol é para todos, está de volta à sua pequena cidade natal, Maycomb, no Alabama, para visitar o pai, Atticus. Vinte anos se passaram. Estamos em meados dos anos 1950, no começo dos debates sobre segregação, e os Estados Unidos estão divididos em torno de questões raciais. Confrontada com a comunidade que a criou, mas da qual estava afastada desde sua mudança para Nova York, Jean Louise passa a ver sua família e amigos sob nova perspectiva e se espanta com inconsistências referentes à ética e a pensamentos nos âmbitos político, social e familiar.Vá, coloque um vigia é o segundo romance de Harper Lee, mas foi escrito antes do mítico O sol é para todos, que recebeu o Prêmio Pulitzer em 1961. Este livro inédito marca o retorno, após 65 anos de silêncio, de uma das maiores escritoras americanas do século XX.

Opinião: Admito que fiquei animada e receosa assim que terminei de ler O Sol é Para todos e descobri que estava lançando no Brasil Vá, Coloque um Vigia. O livro foi escrito antes do Magnum Opus da autora, porém, nunca fora lançado pela simples razão de que ela o deixou de lado para investir na outra obra. Como escritora entendo plenamente a ideia de Harper Lee, ao ouvir do editor que o potencial da obra estaria minado devido a suas críticas muito escancaradas para época, o que deve ter tido um impacto significativo para ela. Mas agora, cerca de 60 anos depois, e no fim da vida, porque ela não deixaria o livro chegar ao público? ( Harper Lee faleceu em 19 de Fevereiro de 2016) É importante ter a mentalidade de que esta trama não é exatamente uma continuação da primeira ( por ter sido escrita antes e pelas pequenas variações na história e nos personagens realizadas pela autora) e portanto segue uma linha independente.

Feitas as considerações iniciais, posso falar sobre o que achei dos personagens e da história do livro. Jean Louise (Scout) aparece adulta e como uma mulher aparentemente bem resolvida e independente. Ela possui um relacionamento com um jovem chamado Henry que conhecera na adolescência, o qual trabalhava como advogado junto a seu pai. Não é de se estranhar que nossa jovem continue com alma de moleca e seja receosa quanto ao casamento. Esta mora em Nova Iorque e volta todos os anos para passar as férias em Maycomb quando revê seu já velho pai, seu namorado e seus tios. Nosso querido Atticus se apresenta como fraco fisicamente, mas ainda com uma mente muito perspicaz.
Algo a ser muito frisado aqui é a análise política realizada pela obra da situação da mulher e do negro nos Estados Unidos dos anos 50. Essa se insere em um contexto de uma sociedade sulista conservadora e nos pequenos meandros que conduzem os conflitos da obra, inclusive de Jean com o próprio pai, o que pode parecer chocante para quem leu O Sol é para Todos. No entanto, se engana quem pensa que nossa história ficará presa a críticas políticas, quando na verdade Harper Lee se vale de uma escrita psicológica para entrar nas memórias e analisar a protagonista. É então que nos encontramos com Dill, amigo de infância,  e Jem, seu irmão. Ressalvo ainda a brilhante explanação a sua época da adolescência de Scout e os dramas nela envolvidos. Na fase adulta conhecemos melhor os seus tios e os dramas relacionamentais de nossa protagonista em uma sociedade que cobrava (e ainda cobra) da mulher um casamento bem sucedido, filhos e ser uma boa dona de cada...
Devo dizer que gostei muito de Vá, coloque um vigia, da mensagem por ele passada e da ideia do título, (alerta spoiler: o título se refere à consciência). Achei bastante reflexivo e poético, uma verdadeira análise psicológica. Porém, ainda agradeço ao editor que disse que ela podia fazer algo a mais. Se assim não fosse, talvez não teríamos essas duas belas obras. Lee não escreveu tanto assim, mas o pouco que escreveu falou tudo. Pessoas de poucas palavras, por vezes, são as que mais tem a dizer...
"Na verdade, você pensou: 'não gosto do modo de agir dessas pessoas, portanto não tenho tempo para elas'. Mas é melhor dedicar algum tempo a elas, querida, senão nunca vai crescer." p. 242

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Você é um número!

Desde muito pequena uma coisa estranha tem me incomodado. Vocês já notaram como somos basicamente um número!? Na verdade, somos vários números... Quando você nasce te dão uma certidão, contendo ano, data, hora e vários números, depois você cria o RG e CPF e torna-se mais um número. O tempo todo existem padrões, de altura, idade, até pra beleza tentam criar notas e estatísticas. No final das contas, tudo não passa de algo um pouco similar a colocar chip em gado, mas eu entendo, é para organização.
Segue aí uma informação chocante,porém, nem tanto. Quer dizer, quando eu falo que gosto de matemática, números e tudo mais, as pessoas me olham com uma cara engraçada. Quem diria, uma escritora, estudante de direito e "de humanas" gostar de números. Admito, tarjas só oprimem as pessoas e não explicam a realidade. De fato, o mundo é uma bela mistura entre poesia, números e seres vivos. Lá na filosofia antiga, estudava-se de tudo um pouco, porque tudo tinha (tem) um pouco de tudo. 
Voltando a mensagem que realmente importa, por muitos dias sinto que somos apenas um número no mundo. Além da organização natural que se busca, repare em como tudo faz com que você se torne reduzido em alguns algarismos. Só mais um infiltrado meio a sociedade e sem grandes significados. Mais uma pessoa nessa sociedade líquida...
Um texto curto e crítico, pra desabafar essa observação. Dizer que somos todos iguais, mesmo que os números nos diferenciem tanto. Que seremos sempre números e nomes, mas somos muito mais do que isso. E por fim, criticar nossa sociedade, por vezes, tão categórica com os números, a qual deixa a magia deles se ofuscar pela burocracia e esteriótipos. Ou talvez, quem sabe, isso não passe apenas de um dos meus devaneios.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Eterna Menina

"Era a segunda vez na semana que sentia aquele estranho formigamento no braço. Já bastava aquela atriste danada, eita dureza. Fazia cerca de um mês que Dora não recebia nenhuma visita dos filhos. Mas tudo bem, ela sabia que não podia julgá-los, eles trabalhavam demais. É meio triste pensar nisso, porém, todo mundo sabe que a música é verídica: Filho vira passarinho e quer voar...
Enquanto caminhava para cozinha avistou o retrato do falecido marido. Era engraçado o quanto de abobrinha falara pra ele quando era vivo, seria triste se ela não soubesse que ele sempre a amou do jeitinho que era. A vida não era tão amarga assim, afinal. Havia sido casada por mais de 40 anos, tinha 3 belos filhos e 5 netos. Só que na verdade a quantidade não significava nada, do que adiantaria se tivesse passado todos aqueles anos casada com um homem que não amava.
Uns dias antes a neta mais velha fizera uma pergunta engraçada, a moça ainda se sentia muito jovem pra casar, coisa que admitia ter certo medo, mas gostava muito de uma rapaz quem namorava há anos. Agora ela queria saber como a vó tinha mantido tantos anos de casamento e se teria valido a pena. A senhora respondeu com sinceridade, não sabia se a maioria dos casamentos realmente valiam a pena, mas como ela amava o esposo e casou por vontade própria, achava que valeu o risco. E também contou que além dos beijos ardentes, ela e o esposo tinham um combinando de beber uma boa xícara de chá para acalmar os ânimos sempre que discutiam. Ele fazia falta.
Mas não pense que dona Dora vivia a vida a míngua não. Ela era dona de si demais pra ficar só relembrando o passado. Dirigiu-se logo à cozinha para fazer mais um bolo. Adorava cozinhar desde moça, ainda que não perdesse uma oportunidade de botar o esposo na cozinha também. Achava curioso e se alegrava em como um dos netos homens tinha apreço pela culinária. Quando era mais nova isso não era muito bem visto, o que ela achava uma tolice completa. 
E então você deve estar se perguntando: para quem seria esse precioso bolo? Ora, não que ela não pudesse fazer para si mesma, só que gostava de compartilhar as coisas. Ainda mais ela quem passara anos de sua vida trabalhando na assistência social. Aproveitou a aposentaria para ser uma pessoa mais ativa na sociedade. Inclusive, não perdia uma reunião das mães do bairro de filhos com transtornos escolares, para onde estava indo naquele dia. Sempre tinha uma boa lição para dar, lembrava-se do seu filho caçula que tinha TDAH e dava bastante trabalho na escola.
Pensava nisso enquanto terminava de lavar a louça. Dentro de cinco minutos o bolo estaria pronto, e nossa senhora com alma de menina sairia cantarolando de casa. Isso é, mas não sem antes passar seu bom e velho batom. Não é porque passou dos 60 que não se pode usar maquiagem, certo? Quem sabe não achava um novo amor, como diziam os netos, algum 'crush'. Riu de mais essa meninice enquanto fechava a porta. O rosto já um pouco enrugado estampava um sorriso caricato de uma mulher que jamais envelhecera. "