quinta-feira, 25 de maio de 2017

Você é um número!

Desde muito pequena uma coisa estranha tem me incomodado. Vocês já notaram como somos basicamente um número!? Na verdade, somos vários números... Quando você nasce te dão uma certidão, contendo ano, data, hora e vários números, depois você cria o RG e CPF e torna-se mais um número. O tempo todo existem padrões, de altura, idade, até pra beleza tentam criar notas e estatísticas. No final das contas, tudo não passa de algo um pouco similar a colocar chip em gado, mas eu entendo, é para organização.
Segue aí uma informação chocante,porém, nem tanto. Quer dizer, quando eu falo que gosto de matemática, números e tudo mais, as pessoas me olham com uma cara engraçada. Quem diria, uma escritora, estudante de direito e "de humanas" gostar de números. Admito, tarjas só oprimem as pessoas e não explicam a realidade. De fato, o mundo é uma bela mistura entre poesia, números e seres vivos. Lá na filosofia antiga, estudava-se de tudo um pouco, porque tudo tinha (tem) um pouco de tudo. 
Voltando a mensagem que realmente importa, por muitos dias sinto que somos apenas um número no mundo. Além da organização natural que se busca, repare em como tudo faz com que você se torne reduzido em alguns algarismos. Só mais um infiltrado meio a sociedade e sem grandes significados. Mais uma pessoa nessa sociedade líquida...
Um texto curto e crítico, pra desabafar essa observação. Dizer que somos todos iguais, mesmo que os números nos diferenciem tanto. Que seremos sempre números e nomes, mas somos muito mais do que isso. E por fim, criticar nossa sociedade, por vezes, tão categórica com os números, a qual deixa a magia deles se ofuscar pela burocracia e esteriótipos. Ou talvez, quem sabe, isso não passe apenas de um dos meus devaneios.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Eterna Menina

"Era a segunda vez na semana que sentia aquele estranho formigamento no braço. Já bastava aquela atriste danada, eita dureza. Fazia cerca de um mês que Dora não recebia nenhuma visita dos filhos. Mas tudo bem, ela sabia que não podia julgá-los, eles trabalhavam demais. É meio triste pensar nisso, porém, todo mundo sabe que a música é verídica: Filho vira passarinho e quer voar...
Enquanto caminhava para cozinha avistou o retrato do falecido marido. Era engraçado o quanto de abobrinha falara pra ele quando era vivo, seria triste se ela não soubesse que ele sempre a amou do jeitinho que era. A vida não era tão amarga assim, afinal. Havia sido casada por mais de 40 anos, tinha 3 belos filhos e 5 netos. Só que na verdade a quantidade não significava nada, do que adiantaria se tivesse passado todos aqueles anos casada com um homem que não amava.
Uns dias antes a neta mais velha fizera uma pergunta engraçada, a moça ainda se sentia muito jovem pra casar, coisa que admitia ter certo medo, mas gostava muito de uma rapaz quem namorava há anos. Agora ela queria saber como a vó tinha mantido tantos anos de casamento e se teria valido a pena. A senhora respondeu com sinceridade, não sabia se a maioria dos casamentos realmente valiam a pena, mas como ela amava o esposo e casou por vontade própria, achava que valeu o risco. E também contou que além dos beijos ardentes, ela e o esposo tinham um combinando de beber uma boa xícara de chá para acalmar os ânimos sempre que discutiam. Ele fazia falta.
Mas não pense que dona Dora vivia a vida a míngua não. Ela era dona de si demais pra ficar só relembrando o passado. Dirigiu-se logo à cozinha para fazer mais um bolo. Adorava cozinhar desde moça, ainda que não perdesse uma oportunidade de botar o esposo na cozinha também. Achava curioso e se alegrava em como um dos netos homens tinha apreço pela culinária. Quando era mais nova isso não era muito bem visto, o que ela achava uma tolice completa. 
E então você deve estar se perguntando: para quem seria esse precioso bolo? Ora, não que ela não pudesse fazer para si mesma, só que gostava de compartilhar as coisas. Ainda mais ela quem passara anos de sua vida trabalhando na assistência social. Aproveitou a aposentaria para ser uma pessoa mais ativa na sociedade. Inclusive, não perdia uma reunião das mães do bairro de filhos com transtornos escolares, para onde estava indo naquele dia. Sempre tinha uma boa lição para dar, lembrava-se do seu filho caçula que tinha TDAH e dava bastante trabalho na escola.
Pensava nisso enquanto terminava de lavar a louça. Dentro de cinco minutos o bolo estaria pronto, e nossa senhora com alma de menina sairia cantarolando de casa. Isso é, mas não sem antes passar seu bom e velho batom. Não é porque passou dos 60 que não se pode usar maquiagem, certo? Quem sabe não achava um novo amor, como diziam os netos, algum 'crush'. Riu de mais essa meninice enquanto fechava a porta. O rosto já um pouco enrugado estampava um sorriso caricato de uma mulher que jamais envelhecera. "

sábado, 6 de maio de 2017

Clube da Luta

Sabe aquele filme que estava na sua lista há um bom tempo, mas você sempre deixava como segunda opção? Ou ainda, aquele que você pouco sabia da história e só tinha ouvido uma ou duas recomendações? Pois é, Clube da Luta conquistou um espaço de honra entre os cinéfilos, porém, não me parece tão famoso como outros filmes populares. Nesse longa, Edward Norton e Brad Pitt constroem personagens curiosos que trazem uma reflexão psicológica de algumas situações atuais, como por exemplo, a sociedade de consumo. Portanto, os convido hoje para entrarem no nosso clube da luta. 



Data de lançamento: 29 de outubro de 1999 Duração: 2h 19min
Direção: David Fincher
Gêneros: Suspense, Drama
Nacionalidade: EUA, Alemanha

Resultado de imagem para clube da lutaSinopse: Jack (Edward Norton) é um executivo jovem, trabalha como investigador de seguros, mora confortavelmente, mas ele está ficando cada vez mais insatisfeito com sua vida medíocre. Para piorar ele está enfrentando uma terrível crise de insônia, até que encontra uma cura inusitada para o sua falta de sono ao frequentar grupos de auto-ajuda. Nesses encontros ele passa a conviver com pessoas problemáticas como a viciada Marla Singer (Helena Bonham Carter) e a conhecer estranhos como Tyler Durden (Brad Pitt). Misterioso e cheio de ideias, Tyler apresenta para Jack um grupo secreto que se encontra para extravasar suas angústias e tensões através de violentos combates corporais.

Opinião:
O Clube da Luta é um filme que trata sobre a vida medíocre que nosso protagonista leva e como ele se rebela contra o mundo que o cerca. O longa começa com uma análise das coisas materiais do protagonista e em como ele buscava no consumismo algo para anestesiar sua falta de perspectiva com a vida. Não sendo isso o bastante, ele começa a sofrer de insônia e descobre uma válvula de escape na participação de grupos de auto-ajuda. Segundo ele, estes eram os únicos locais em que as pessoas realmente paravam para escutar umas as outras.
Essa solução seria ótima, se não fosse uma grande fraude, tendo em vista que nosso protagonista de nada sofria em comum com os seus colegas dos grupos, apenas os frequentava para apaziguar seu vazio. O que ele não esperava era que a presença de outra farsante fosse lhe tirar tanto o sossego como tirou. Nosso protagonista se vê perdido diante de sua farsa e mais uma vez sem perspectiva. É então que ele conhece Tyler Durden.
Assim que o conhece em um vôo de avião, sua vida muda consideravelmente. Sua chegada em casa é seguida da descoberta de que esta pegara fogo e, portanto, ele estaria sem teto até que o seguro fosse aprovado. Então, nosso personagem passa a morar com o recém conhecido Tyler em uma casa caindo aos pedaços, este vive da venda de sabão e é corajoso e intenso, tudo o que nosso protagonista não consegue ser. A mistura desses dois vai criar algo novo, forte e intenso, um clube secreto no qual as pessoas podem descarregar sua raiva por meio de um quase-esporte. Ainda, vemos o relacionamento de Marla com Tyler e o certo asco de nosso protagonista com isso, na verdade com a coragem de Tyler de fazer tudo que ele não conseguia.
Com algumas sacadas inovadoras e críticas implícitas em um roteiro totalmente inovador, podemos dizer que o Clube da Luta foi um filme de vanguarda em seu tempo. Mas ainda nos dias de hoje, quase vinte anos depois, traz uma análise densa e uma mensagem sobre os nossos dramas pessoais, seres imersos nessa sociedade líquida, capitalista e, por vezes, hedonista. Palavras fortes para um filme forte. Não assista esse filme se não tiver estômago, mas por favor, assista esse filme se tiver coração.
 Esse longa não é uma crítica pura ao capitalismo, ele é uma crítica aos comportamentos que o contexto capitalista nos impõe e que muitas vezes nós nos impomos. O filme ainda mostra o quão longe se pode ir quando não se aprende a lidar com a raiva e com os problemas pessoais. A violência exteriorizada pelos personagens , na verdade,é apenas a expressão do que as pessoas têm dentro de si e das raivas que não aprendem a lidar. Vou além, na minha humilde opinião, Clube da Luta trata sobre a relação entre Ego, ID e Superego, mas essa curiosidade deixo para vocês descobrirem...