quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

O desenhista: uma reflexão sobre os amores que não vivemos e os que vivemos

"Era outono de 1998, mais uma tarde a observar o cair das folhas das árvores. Ele era mais belo que a beleza poderia ser. Cabelos cor de chocolate e olhos de verde viver, pele embranquecida pelo frio do amanhecer, cabelos cacheados a ornar seu ser. Era a paisagem que eu apreciava em todas as estações do ano, mas naquela em especial se tornava sem igual. Seu sorriso coloria meu dia de modo fascinante, era um infante acanhado, mas ainda meu galante.
De praxe, não posso perder a hora de dizer que ele foi só mais um, mais um dos amores que nunca vivi. Não pense que fico trite por não tê-lo vivido, essa não é bem a questão. O ponto é exatamente aquele de que me referia: era outono e as folhas caiam das árvores . Ou seja, todas estavam prontas para o renascer e eu também.
Detesto despedidas, mágoas, ressentimentos e picuinhas, pra mim é tudo preto no branco, é como sei ser. Não era a o primeiro desamor que vivia nem seria o último, porém, é aqui que me pergunto, o que seríamos sem desamores? Se tudo desse certo logo de cara como pretendemos, será que iríamos amadurecer tanto? Será que não nos tornaríamos apenas crianças mimadas que querem tudo que querem na hora que bem entendem?
Mais interessante ainda é aproveitar essa deixa para dizer que tudo bem: me perdoem amores que nunca vivi. Peço perdão pela insegurança, por todos que deixei de permitir que me conhecessem, perdão pelos pré-julgamentos. Sei que o que foi, foi. Mas nessa mensagem para os amores que nunca vivi, devo dizer que tudo bem nunca termos vivido algo, de verdade. Saber que poderíamos ter vivido já é bom o bastante, quer dizer que ainda estamos vivos. E só a sensação do poder viver já é tudo que preciso.
Naquele ano, naquele outono, ele me encontrou na rua e falou: Você por aqui?
Ri de mim mesma e quase não acreditei quando soltei um Onde sempre estive.
Sempre estive no mesmo lugar, é claro, mas nem sempre fui a mesma, esqueci-me de dizer. Minha língua entrara em pânico e minha mão parecia sofrer de Parkinson. Ele tocou no meu braço gentilmente, e eu senti-o formigar. Era um amor que nunca tinha vivido, mas tudo bem se pudesse errar, tentar e de novo, errar. Porque é isso que fazemos não é mesmo? VIVEMOS.
Garranchos percorrem um papel para deixar o momento encantado, porém, não é preciso, ele já o é. Antes mesmo de eu terminar ele sutilmente falou: Agora está aqui comigo. E decidi deixar o amor que nunca vivi ser amor. Durou o tempo que durou, mas nunca deixou de ser amor.
O desenhista era um dos melhores artista que eu conhecia, Da Vinci estaria inebriado como eu. Estudante de astronomia e ciência. Deitávamos na grama para apreciar o céu. Saturno, Marte e Vênus, todos contemplavam as palavras de amizade e amor. Até plutão que já não é planeta veio observar a união. Palavras sempre foram o melhor de nós. Durou nosso amor enquanto duravam as pesquisas da ciência do amor. Aparentemente, nós não fomos aprovados em nossas hipóteses e nem primeiras teorias validadas como lei. O amor não era uma ciência certa o bastante. Acabou depois de um tempo. Mas no final, foi um bom e feliz amor que vivi."

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