terça-feira, 13 de novembro de 2018

Gente

A borboleta pousou na rosa branca, seus tons amarelos se destacavam na ausência de cor, que na verdade, é a união de todas as cores. Marina apreciava aquela cena da janela do seu quarto, queria tanto ir lá fora e aproveitar o dia. Mas não, ela não podia.

Já tinha falado trezentas vezes para a mãe que não tinha problema, ela era grandinha, saberia como se cuidar, mas não tinha jeito, dona Élia não deixaria sua princesa sair da sua bola de cristal. Era a mãe mais protetora que se pode imaginar. É, só que Marina entendia o porquê.

Lembrou-se rapidamente de um livro que havia lido há pouco, Estrelas Tortas. Walcyr Carrasco havia a inspirado muito com sua obra. Poucas vezes se sentira tão representada e compreendida. Era como se sempre fosse estranha, diferente, quando na verdade, só queria ser igual.

Considerava-se feliz apesar de suas primas nas festinhas de família olharem com pena. "Coitada, ela nunca vai saber como é brincar conosco". Ah se descobrissem que elas podiam brincar com ela...  Nada custava inseri-la na brincadeira, oras boas!

Inclusão, igualdade, é o que a lei fala, pessoa com deficiência, Marina sabia quem era, uma menina com uma deficiência. Nasceu com as perninhas paradas, e uma mente flutuante. Era cadeirante sim, mas muito mais do que isso, era gente igual a gente.

Não deveria haver porquês de medos, bolhas e impedimentos, a pessoa não é a deficiência! Marina é ela mesma, quem ela quiser!

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