domingo, 16 de dezembro de 2018

O Canário Acinzentado

Era uma noite quente e estrelada em que ele não parava de cantar na minha janela. Ele quem, menino? O canário, oras bolas, meu fiel companheiro Caramba! Como eu senti falta daquele cantar! Foi exatamente uma semana na praia o quanto estive longe da casa. Mas para ser bem sincero creio ter sido muito mais. Vocês já sentiram estar tão longe da realidade que é como se apenas seu corpo se encontrasse presente? Eu sim.
Há mais de um ao Pietro nos deixara, como um furacão e uma tempestade. Era uma noite quente e estrelada como aquela, e meu melhor amigo e irmão saíra para comprar chocolate. Se pensas ser chocólatra é que não o conheceu.
Às 21h 45 alguém bateu na porta, três vezes, não estava esperando ninguém. Será que Aline resolvera me fazer uma surpresa? Desci as escadas com um tanto de preguiça e olhei quem era pelo vão da porta. “Pietro?” Gritei embasbacado e rodei a chave.
Ele entrou rapidamente e trancou a porta novamente. Carregada o chocolate em uma mão e com a outra secava a testa. Nunca o vira tão tenso e suado, quiça quando pediu Marisa em namoro. “Está tudo bem?”; logo, perguntei.
-Não! Está vindo uma tempestade! – seus olhos estavam esbugalhados.
-Uma tempestade? Em BH? – dei uma gargalhada
- Sim! Uma tempestade! E você deveria se esconder! Quando olhei em seus olhos mais uma vez percebi que falava a verdade a menos, a sua verdade!
Corri para fechar todas as janelas do recinto. Pietro deixou o chocolate na mesa e foi buscar algo na dispensa. Os cadeados do meu pai! Surpreendi-me, porém, hesitei em questionar. Como um cadeado ajudaria em uma tempestade?
- Suba, feche tudo e se tranque no banheiro!
Obedeci meu irmão mais velho, como sabia ser o certo, ou pelo menos, acreditava ser. Perguntei por ele e recebi um “me obedeça” seco.
Corri para meu banheiro e tranquei a porta. Minha cabeça latejava como um relógio cuco batendo. Um ruído interrompeu meu pensamento, uma porta foi quebrada. Entrei em pânico, simplesmente não conseguia me mover. Um grito estridente ressoou pela cada, era Pietro!
Assim que processei os fatos desci correndo, mas era tarde demais. Pietro estava estirado no tapete, rígido e de olhos esbugalhados. Ao seu lado estava o canário, aquele que acompanharia todas minhas noites de solidão. 

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