terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Romances Modernos

Resultado de imagem para açucar na mesa"A vida é feita de momentos. Carolina sabia muito bem disso quando resolveu tirar aquele dia só para si. Há quanto tempo não sentava sozinha para ler um livro ao som de sua música favorita? Ou até mesmo dançar sem se importar com o ritmo, os passos ou julgamentos? Estava de folga, ou seja, além de viável aquele dia era mais do que merecido.
Mas é claro que não, aquele dia não sairia como o planejado. Tudo desandou logo antes de acordar, tivera um pesadelo. Em seu triste sonho, o crush dizia-lhe que eram só amigos. O que a tinha chateado não era a ideia de estar na friend zone ou qualquer coisa do tipo, mas o fato era que na vida real sequer eram amigos.
Suas amigas sempre contavam de seus namoros online, ficantes e namorados que conheceram no tinder ou algo do tipo. Enquanto isso, ela sequer tinha coragem de olhar nos olhos ou dirigir a palavra ao seu vizinho. Ele devia achá-la extremamente mal educada, quando na verdade tudo que ela queria era dizer o quão bonito o achava. Que bela namoradeira, não?
Como se não bastasse a manhã já estar desalinhada -e triste-, descobrira que o açúcar tinha acabado. E o que somos sem açúcar nessa vida, não é mesmo? Seria clichê e impensável demais pedir um pouco no vizinho- pensou. Talvez pudesse deixar todos objetivos de lado e ir ao bar e na balada mais tarde, dançar e quem sabe sair com alguém... Mas não, por incrível que pareça, aquilo não a apetecia.
Ainda como se não pudesse piorar, estava entrando no quarto para se trocar bem quando bateu o dedão do pé no batente da porta. Isso mesmo gênio, quebra o dedo!-mordeu a língua. Assim não dá, sofrer por amor já é demais, agora se machucar por causa disso é o cúmulo do absurdo.- pensou. Tudo bem que ela sempre fora distraída, mas a atual desculpa era a paixonite.
Pensou por um instante naquele estranho conceito de amor. Ou não, ela não amava e mal estava apaixonada pelo vizinho, mas é aquele antigo jeito de falar. Amor está mais para sentimento incondicional e construído do que para uma atração. Paixão está mais para sentimento irracional e incontrolável do que para um simples química. Ela o queria, mas aquilo não era o fim do mundo.
Essa foi a sua constatação enquanto colocava gelo no dedão. Sua conclusão era que certas coisas não são para acontecer. Talvez ainda ela é quem fosse arcaica demais nesse mundo globalizado e moderno. Não é que ela não gostasse dele, só que não se encaixava. Sou uma peça fora do quebra cabeça!- constatou. Foi então que escutou a campainha tocando.
- E aí? Tudo bem? Eu reparei que você não saiu hoje. - Advinha quem era...
- Ah sim, hoje é meu dia de folga... - a voz saiu mirrada.
- É que estou com dificuldade em ter ideias para meu novo projeto e pensei em dar uma saída. Você topa tomar um café?
-Pode ser, tô sem nada para fazer mesmo!- deu de ombros.
Afinal, o mundo moderno talvez ainda tenha um pouco de espaço para o velho romance..."
Giovana de Carvalho Florencio

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

La La Land

Qual filme escolher para a primeira crítica de 2017?  Eu havia pensado em uma lista de bons filmes, mas depois de ir ao cinema, precisei deixar todos eles de lado. A pergunta correta então, seria: Ah, claro, como não falar de La La Land? Há um bom tempo que nenhum filme me deixava encantada e apaixonada desse jeito. Tudo nesse longa parece funcionar muito bem, então, tentaremos humildemente fazer uma breve análise sobre os acertos da obra.



Data de lançamento: 19 de janeiro de 2017
Direção: Damien Chazelle

Duração: 2h 08min 
Gênero: Comédia Musical, Romance
Nacionalidade: EUA
Sinopse:
Ao chegar em Los Angeles o pianista de jazz Sebastian (Ryan Gosling) conhece a atriz iniciante Mia (Emma Stone) e os dois se apaixonam perdidamente. Em busca de oportunidades para suas carreiras na competitiva cidade, os jovens tentam fazer o relacionamento amoroso dar certo enquanto perseguem fama e sucesso.
Opinião:
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Se há algumas semanas me dissessem que o melhor filme do ano seria um musical, que Ryan Gosling ganharia o Globo de Ouro ( e quem sabe o Oscar), que Emma Stone surpreenderia mais ainda e que eu iria chorar no cinema, eu provavelmente riria. Mas agora sou obrigada a dar o braço a torcer. La La Land além de surpreendente, é uma das melhores obras já feitas no cinema dos últimos anos. Não é só pela trama, ou pelas músicas, atuação, cores e coreografias, é por tudo isso junto. 
Já faz alguns meses que soube dessa produção e assisti o trailer. Digo com sinceridade que o mesmo não me convenceu, logo eu que sou um pé atrás com musicais. Porém, devido a maciça propagando em cima do filme, o Globo de Ouro e um empurrãozinho dos meus amigos precisei ir contemplar a obra logo na pré-estreia. Não me arrependo nem um pouco, até porque estou cantando a trilha sonora até agora. Mas vamos começar a falar do enredo...
A sequência inicial do filme produz um sentimento controvertido, há quem ame, quem se incomode ou quem fique dividido como eu. Os primeiros minutos contemplam a música mais chiclete do filme em que meio a um engarrafamento, as pessoas descem de seus carros para cantar e dançar. Um bom simbolismo, uma ótima música e eu com medo de que filme não fosse orgânico o suficiente. Porém, pode ficar tranquilo, depois disso a trama começa de verdade e tudo passa a se encaixar. 
Quando somos apresentados a Mia, aspirante a atriz, já nos sensibilizamos com seu sonho aparentemente tão distante e pela exímia atuação de Emma Stone. Logo em seguida, conhecemos Sebastian, o pianista sonhador, o qual deseja reerguer seu restaurante regado ao som de Jazz. Tipo musical que ele acredita estar morrendo. Possuindo uma queda por Jazz me senti convencida pela trama nesse momento, e de fato é então que a história engrena.
O destino parece unir esses personagens, e nós espectadores poderemos observar o seu relacionamento com toda sensibilidade e detalhes em suas estações. Pretendo não dar mais detalhes para te instigar. Sabe então o que de melhor também a trama possui? O contexto da "cidade das estrelas", do mundo da fama e sobre música. Além da obra ser recheada de boas músicas, cores fascinantes que se combinam perfeitamente e uma câmera bem direcionada nos detalhes. Ressalto ainda minha surpresa com a boa atuação, inclusive na música de Ryan Gosling. Esse detalhe me faz lembrar de uma das mensagens do filme, muitas vezes há pessoas talentosas que precisam apenas de uma oportunidade.
O final espetacular quebra muitos paradigmas do cinema e traz um realismo tocante. Damien Chazelle, o jovem diretor, acaba de consolidar seu espaço no cinema e abrir portas para novos filmes, cheios de intertextualidade, criatividade e verossimilhança. Agora, sinceramente, fora toda essa análise cinematográfica, o longa é tocante e dá vontade de sair do cinema cantando e dançando. Se voce não assistiu, ainda há tempo.
"Para os sonhadores que acreditam no amor
E para os apaixonados que acreditam em sonhos"

sábado, 14 de janeiro de 2017

A Eterna Incompreensão de Viver

Uma das analogias contidas no livro "O Mundo de Sofia" é sobre o Coelho da Cartola. Esse é o universo que vivemos. Como explicar o aparecimento e saída do Coelho da Cartola? É uma das indagações que temos na vida.  Nascemos na pontinha dos pelos com a capacidade de nos maravilhar e refletir sobre o mundo, mas com o tempo vamos escorregando para a base da pelagem aonde mal podemos ver o que há além. Confortáveis demais para ousar subir de novo. Mas pensando, refletindo, filosofando podemos escalar lentamente até  a pontinha dos pelos, para enfim poder ver um pouco do mundo. Pois é, assim como somos incapazes de ver o mundo em sua completude e tudo que podemos ver é com muito esforço, também somos incapazes de ver outras pessoas em tudo que são.
Alguma vez alguém me disse que você poderia viver com uma pessoa a sua vida toda e nunca conhecê-la realmente. Pois bem, a meu ver, somos seres eternamente incompreendidos. E não, isso não é papo de adolescente, apenas é a mais fatídica realidade. do existir. Apesar desse discurso parecer meio niilista ou deprimente, quero informar que entender isso foi o grande triunfo na minha vida pessoal, e já lhe explicarei o porquê.
Quando somos crianças sentimos constantemente a necessidade de nos fazer compreendidos, tal questão leva a sérias crises na adolescência. Digo isso por uma perspectiva particular de observação do mundo que me cerca. Aliás, quem é que no fundo não quer se sentir compreendido pelo mundo? Ninguém gosta de se sentir rejeitado, renegado, ser debochado ou ignorado. "All You Need Is Love" - Já diziam os Beatles.
Mas a questão é bem mais profunda do que aparenta. Não é como se o problema fosse seu pai, sua mãe, seus amigos, seu cachorro, periquito ou papagaio. O xis da questão está no fato de que mesmo com os vários tipos de linguagens, somos incapazes de expressar tudo o que sentimos. É por isso que tentamos nos fazer entendidos de todas as maneiras possíveis, através da dança, música, artes plásticas, escrita, gestos e atitudes. Parece-me que algo no nosso âmago nos impele a nos relacionarmos com o mundo. Porém, muitas das vezes sequer somos capazes de nos comunicarmos conosco mesmo. 
Não parece curioso a preocupação tão incidente sobre a inteligência intrapessoal abordada pelos materiais de autoajuda? Reflita comigo um pouco: sequer somos capazes de nos enxergar por fora como somos, o que vemos sempre são reflexos e rascunhos de nós mesmos, quiça conheceríamos todo nosso interior. Menos provável ainda é que entendamos tudo que passa pela cabeça dos outros!
Estamos fadados a essa eterna incompreensão de viver. Nunca sabemos tudo sobre nós mesmos, nenhuma pessoa saberá sobre nós e no final das contas não somos tão previsíveis assim. 
Saber disso nos ajuda a ser mais empáticos com os outros, porque eles tem dificuldades e são gente como a gente. Também nos faz cobrar menos de nós mesmos, para nos aceitarmos como somos, sabe, como diz o ditado "A beleza está nos olhos de quem vê." Aquele aparente defeitinho seu pode ser o que mais agrada a outra pessoa. No fim das contas, sermos eternamente incompreendidos pode ser bastante fascinante, mais do que aterrorizador. Porém, assumo, ainda estou aprendendo a me maravilhar mais do que me assustar.

sábado, 7 de janeiro de 2017

Resenha- O Palácio de Inverno

O Palácio de Inverno
Comecei o ano de 2015 com uma excelente recomendação de livro. Este mesmo o qual iniciei 2016 lendo e começo 2017 recomendando. O Palácio de Inverno é aquele livro que tem tudo o que aprecio: história com contexto histórico, se passa na Rússia ( país o qual me chama muita atenção em termos históricos), trata de temas delicados e possui um brilhante escritor. John Boyne já é famoso por "O menino do Pijama Listrado". Caso tenha se interessado sinta-se convidado a ler essa resenha.

Editora: Companhia das Letras
Páginas: 456
Ano: 2010

Sinopse: Pode-se fugir da história? Será possível viver no anonimato após uma existência de fausto e glória? A vida comum é assim tão diferente da vida pública? Geórgui Jachmenev passou a vida inteira se debatendo com essas questões, e agora, prestes a perder o grande amor de sua vida, tenta encontrar uma resposta para elas ao refletir sobre seu percurso num século XX que sempre lhe pareceu longo demais.
Seus feitos começaram cedo: aos dezesseis anos, em ação impulsiva e atabalhoada, o rapaz impediu um atentado contra a vida de ninguém menos que o grão-duque Nicolau Nicolaievitch, irmão do czar Nicolau II, que, agradecido, nomeou Geórgui o guarda-costas oficial de seu filho Alexei, destinado a ser o próximo czar. Uma reviravolta impressionante, que o levou da taiga russa para o fausto dos palácios moscovitas, cenário que, apesar da amplidão e luxo de seus imensos corredores, iria se revelar bem mais inóspito que os frios grotões de sua vida anterior.
A dura experiência com esse mundo gélido de intrigas palacianas, às quais sempre era jogado contra sua vontade, e de grandes tensões e responsabilidade só foi apaziguada com a chegada do primeiro amor, Zoia. Mas os tempos eram agitados, e a história deixou pouco espaço para idílios: quando a Revolução Bolchevique tomou de assalto o país, e isolou toda a família do czar numa casa de campo nos arredores de Ekaterinburg, mais uma vez Geórgui teve de agir rápido a fim de salvar a si e a Zoia. A vida com ela lhe custaria pátria, família e prestígio, e ele jamais se arrependeu disso - mas e para Zoia, o que teria custado?
Numa narrativa fascinante, em que presente e passado vão convergindo em capítulos alternados, da Inglaterra dos anos Thatcher para a época dos czares russos, e dos anos difíceis da Segunda Guerra Mundial para o turbilhão da Revolução Bolchevique, acompanhamos Geórgui em meio a acontecimentos históricos decisivos que acabam por se revelar mero pano de fundo para uma história de amor que esconde um grande mistério, talvez maior mesmo que a própria história.

Sobre o Livro: Não é preciso ser fã de romances históricos para achar palácios, princesas, reis e guerras algo interessante. John Boyne parece ter talento de abordar essas temáticas e deixá-las mais leves, e ainda carregadas de lições. Intercalando passado e presente, nosso autor conta a vida de Geórgui do ponto de vista da juventude e velhice, uma de foma crescente  e outra decrescente, até que se encontrem.  O melhor de tudo é que no contexto geral cada detalhe da obra se soma até desembocar no incrível final. 
O final realista e sensível está dentro dos fatores da obra que tornaram-na ainda mais complexa e valiosa. Ao mesmo tempo que podemos ver a doçura da juventude,da esperança e do amor na fase jovem do protagonista, encontramos o realismo e as fatalidades da vida em sua fase adulta. O conceito final de solidão é de arrepiar do dedão do pé a ponta do cabelo. Durante 2016 pude refletir e interiorizar essas mensagens em minha vida.
Quanto a narrativa, por sua vez, vemos a história de Geórgui em sua juventude escolhendo e sendo escolhido pela vida para servir a família real, como guarda costas do frágil príncipe Alexei no palácio junto ao Czar e toda família real. Mal sabia ele, mas toda essa mudança mudaria sua vida para sempre. De forma orgânica vemos a derrocada do império Russo e a ascensão da URSS, com direito a presença da Primeira Guerra Mundial, o temido Rasputin e a transformação de São Petersburgo em Petrogrado e por fim em Leningrado.
Na outra fase, simultaneamente, observamos a velhice e as doenças dessa, a preocupação com a morte, depressão, filhos e relacionamento conjugal entre Geórgui  adulto e sua companheira da vida Zoia. Ainda o que não poderia faltar, é a paixão que o protagonista vai criando pela literatura e como a vida dentro das bibliotecas também influencia sua vida de forma maravilhosa. O melhor de tudo: Vemos a vida como ela é, cheia de altos e  baixos.
Esse livro é daqueles bem construídos, com bons personagens, um enredo envolvente e impactante. Eu tenho o hábito de recomendar os livros que gosto, porém, dessa vez quero mais do que recomendar, quero pedir encarecidamente que não perca a oportunidade de ler esse autor nessa mais belíssima obra. Mais do que uma aula de história, "O Palácio de Inverno" é uma lição de vida, sem moralismos, nua e crua. Depois de tudo, sobra só um desejo: um dia quero conhecer o "Palácio de Inverno" nas noites brancas com esse livro nas mãos.

sábado, 31 de dezembro de 2016

2016: Sutilezas de viver

Não sei bem ao certo como começar a escrever um texto sobre esse ano tão curioso, perdoem-me pela palavra deslocada, mas não me cabia termo melhor aqui. Pois bem, começarei pelos objetivos os quais tinham proposto para 2016. Então narrarei os grandes aprendizados que recebi e como lidei com os fatores externos a mim durante o decorrer do ano. O que quero deixar claro é que a leitura tem sido minha esperança todos os dias e como poetisa não posso deixar de enfatizar que tudo que direi aqui de triste ou feliz não sobressai a nada que escrevi durante o decorrer do ano.

Vida Pessoal

Ao narrar meus planos sobre 2016 estipulei três focos na minha vida: Considerações pessoais, profissionais e aqui do Blog. Na vida pessoal posso dizer que tomei uma das decisões mais sábias em toda minha vida. Tornar os planos pessoais mais maleáveis e focar nos pequenos prazeres da vida é de uma alegria inexprimível. Não são as grandes conquistas que fazem nosso ano valer a pena, mas o todo. Posso dizer que este foi um ano de muitas vitórias, realizei coisas as quais sempre quis, porém, algumas não podia, outras nunca tivera a oportunidade e outras ainda porque me julgava incapaz. A primeira lição desse texto piegas de fim de ano: Nós não somos incapazes. Podemos ir além, sempre, ainda que dentro da nossa realidade. 
"Vamos nos permitir"- Já dizia Lulu Santos. Foi muito bom me permitir sonhar, mas também me permitir realizar. Porque se sonhar é bom, viver é melhor ainda. Como eu nunca havia me prestado a sentar algum tempinho frente ao teclado para aprender o básico? Mesmo que pra tocar só minhas músicas favoritas. Porque eu e tantas pessoas tendemos a achar que não cozinhamos bem quando a questão não é cozinhar bem, mas fazer a comida que você gosta do jeito que você gosta e quando você quer? Porque nós não tomamos coragem e começamos a fazer algum exercício físico? No meu caso foi a academia e as caminhadas, mas pra você pode ser natação, balé e por aí vai. Porque não nos permitimos viver e conhecer a vida? Será tão mais fácil ficar na zona de conforto do que já sabemos, dominamos, conhecemos, gostamos e aceitar assim?
Outra coisa a qual ainda tem sido meu embate e lhes direi de coração a aberto é a questão da autonomia. Ao chegar aos 18 anos, nós jovens adultos, queremos mais do que nunca crescer, olhar no espelho e dizer: Eu sou adulto. Ainda que isso nos assombre mais do que fantasmas, vampiros ou bruxas. Entendo o medo sentido quando percebemos que nós conduzimos o carro, ou quando nos vemos chegando na faculdade( dá pra acreditar que você quem acabou de sair das fraldas está numa faculdade?) ou para trabalhar, ou quando só está andando sozinha na rua, indo ao banco e todas essas coisas simples que nos fazem sentir livres (e acorrentados).
Segunda lição: "O homem nasce livre, e, em toda parte, encontra-se acorrentado". -Rousseau. Não existe para onde correr, somos escravos de nossas próprias decisões e ainda temos de nos inserir nesse mundo cheio de regras que nós não inventamos. 
A controvérsia de tudo isso foi descobrir uma dificuldade pessoal, hesitei antes de escrever isso, mas penso que um problema só pode ser superado se aceitado. Acredito que esse male seja um vício causado pela falta de equilíbrio quanto a autonomia. Tenho a infeliz tendencia a não aceitar ajuda alheia. Ah, não me leve a mal, não é que me ache melhor do que os outros, porque tenho plena consciência de que não sou, há dias em que até questiono se o oposto não é verídico. A realidade é que esse desejo por provar a independência para eu mesma faz com que eu não queria pedir ajuda, mesmo quando preciso. Sabe, deve ser resquício das crises dos treze anos...
Terceira lição: É saudável aceitar os seus defeitos. Não se pode corrigir uma falha que desconhecemos.

Vida profissional e Blog


Quanto as conquistas profissionais posso dizer que me sinto vitoriosa e ciente de que não importa o que eu faça, nunca serei 100% e isso é maravilhoso. Qual seria a graça de estudar se soubéssemos de tudo, não é mesmo? Esse foi mais um ano em que quanto mais eu estudava, mas me dava conta de que não sabia de nada. O curso de Direito me abriu os horizontes e tem amadurecido meu conhecimento e sou muito grata por isto. Além da enfim graduação no Inglês e a percepção do prazer em aprender novas línguas. Mesmo que eu não me ache muito talentosa para isto. E por último, a ponderação sobre meu sonho de ser escritora, a passinhos curtos avanço na escrita dos livros buscando meu Magnum Opus que seja pertinente de divulgação.
Quarta lição: Quando se trata da vida profissional o caminhar é bem mais lento, mas se fizer o que ama no fim das contas terá valido a pena.
E minha última consideração nessa área é sobre o Blog. Fiquei muito feliz com o alcance que está tendo, ainda que pequeno, tem valido a pena. E claro, fiquei satisfeita uma certa periodicidade a qual consegui. E o melhor de tudo, sem me sentir muito pressionada. Ainda que segundo minha família eu seja um pouco metódica, haha. Cada louco tem suas manias, como sempre digo.

Relação com fatores externos 


Sobre os aprendizados desse ano e fatos externos a mim posso dizer que algo que me deixa triste por hora, mas grata pela autopreservação é o conseguir separar meus sentimentos dos sentimentos dos outros. Como uma pessoa muito sensível e buscando sempre a empatia vivi muitos momentos em que sofria pelos outros. Porém, depois de muito tempo me dei conta de que há certas coisas as quais estão fora do meu controle. Porque não importa o que eu faça, eu nunca vou solucionar todos os problemas do mundo.
Acho belo a luta contra os problemas sociais, são nossas lutas de cada dia. Mas também não posso deixar de viver por causa disso. Sempre pensei que esse era um pensamento egoísta, às vezes me culpo por ainda o achar, só que penso melhor e me dou conta de que se eu for a melhor pessoa que posso, cuidar da minha vida, ajudar quando possível e escrever ( porque isso me apazigua) estarei mudando o mundo a minha maneira. 
Prossigo, assim como eu passo por inúmeros problemas, as outras pessoas também passam. Cada um a sua maneira. E deixar de enfrentá-los ou mesmo querer enfrentar o problema de todo mundo é ingenuidade nossa. Perdoem-me pelo discurso meio "livro de autoajuda", mas é o que sou capaz de racionalizar. O mundo passou por muitos problemas esse ano, estes também me incomodam, já chorei por amigos que sofrem, já me irei por política, já escrevi muito sobre tudo que me incomoda no mundo, e sabe, não quero deixar de me incomodar com nada disso. Mas cada dia é um dia, se eu só viver para o mundo, corro o risco de perder bons amigos, grandes surpresas e até mesmo as pequenas oportunidades de mudar o mundo.
Última lição: Não somos super-heróis. Estamos cercados de um mundo cheio de problemas, e nem sempre vamos poder mudá-lo. Gostaria de fazer mais por ele, e isso é maravilhoso. Por outro lado, é preciso aprender a esperar, correr a atras do que pensamos sim, mas saber aproveitar a hora certa. A vida é feita de momentos, e pode ficar tranquilo, se você busca algo, cedo ou tarde você vai encontrar.

"Navegar é preciso, viver não é preciso"- Fernando Pessoa

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Sobre os livros de 2016

Estamos na reta final do ano e nada melhor do que trazer um feedback de todos os livros lidos durante 2016.  Cada obra possuiu  sua importância e seu ensinamento para mim, e devo dizer que alguns clássicos os quais enfim apreciei esse ano estarão na minha memória para sempre... Espero que curtam a listinha e se quiser compartilhem as suas também!





Melhores do ano: O Sol é para todos- Harper Lee O Mundo de Sofia- Jostein Gaarder
Comentário: O que mais me chamou a atenção nessas duas obras é o leque de temas que abrangem e o fato de ficaram eternizadas em minhas memórias.
Autor(a) do ano: Jojo Moyes 
Comentário: Gostaria de explanar esse escolha dizendo que a vi como autora do ano por causa dos livros lançados em 2016 ( No caso, "Depois de Você")  e da repercussão internacional e no cinema.
Personagem favorita: Sofia ("O Mundo de Sofia"-Jostein Gaarder) e a Raposa ( de "O Pequeno Príncipe"-Antoine de Saint-Exupéry)
Comentário: As maiores lições desse ano aprendi com essas duas personagens, então seria um desrespeito não mencioná-las.
rie do Ano: Série Dezesseis Luas (Beautiful Creatures) -Kami Garcia e Margaret Stohl
Comentário: Dentre os livros de série o quais li esse ano achei esta série a mais consistente e curiosa.
     Terminei rápido: O Pequeno Príncipe-Antoine de Saint-Exupéry
       Comentário: Um livro doce, curto e contagiante, consegui ler em torno de uma hora!
Comentário: Em minha defesa o livro tem quase 800 páginas na versão compacta!
ChoreiSal- Letícia Wierzchowski, Toda Luz que Não Podemos Ver-Anthony Doerr & O Palácio de Inverno - John Boyne 
Comentário: São livros impactantes, de lavar a alma. Afinal, nosso coração não é de pedra, é?
Ri muitoAs Provações de Apolo- Rick Riordan 
Comentário: Como não rir com o Rick?
Comentário: Porque rir ou chorar se podemos ter os dois?
Personagens com quem me identifiquei: Anne Frank ("O Diário de Anne Frank"-Anne Frank),  Sofia ("O Mundo de Sofia"- Jostein Gaarder) e Flora ("Sal"- Letícia Wierzchowski)
Comentário: Todas mulheres amantes da literatura e filosofia... 
Livro físico mais bonito O Pequeno Príncipe -Antoine de Saint-Exupéry e Alice no País das Maravilhas-Lewis Carroll
Melhor finalO Mundo de Sofia- Jostein Gaarder
Comentário: Fica aqui a recomendação para leitura em 2017.
Pior finalA Melhor Coisa que Nunca Aconteceu na Minha Vida -Laura Tait e Jimmy Rice
Comentário: Sabe quando fica a sensação de que ficou faltando alguma coisa? Exatamente isso.
SurpreendenteSurpeendente - Maurício Gomyde e O Mundo de Sofia-Joisten Gaarder & Sal-Letícia Wierzchowski
Comentário: Parece engraçado pensar em um livro chamado Surpreendente que não fosse surpreendente. Essa é uma das minhas categorias favoritas, porque todo mundo gosta de reviravoltas, certo?
Decepcionante: As Crônicas de Nárnia-C.S.Lewis e Alice no país das maravilhas-Lewis Carroll
Comentário: São livros muito famosos e clássicos, mas recomendo que não vá com muita sede ao pote. 
Casal favorito: "Gueórgui e Zoia" ("O Palácio de Inverno"- John Boyne) e "Tate & Miles" ("O Lado Feio do Amor"-Colleen Hoover)
InspiradorO Livro do Bem-Ariane Freitas & Jessica Grecco
Comentário: Sabe aquele final de dia em que está se sentindo cansado, triste ou só desanimado, esse livro é capaz de adocicar seu dia.
Fofo: Tudo e Todas as Coisas- Nicola YoonO Pequeno Príncipe-Antoine de Saint-Exupéry & Extraordinário-R.J.Palacio
Lendo: Sense and Sensibility- Jane Austen




terça-feira, 20 de dezembro de 2016

A Intolerância Religiosa no Brasil

Chegamos ao temido assunto, ao tema da esperada redação do Enem de 2016. Mas afinal, você acha que existe intolerância religiosa no Brasil? Em termos históricos, o Brasil já passou por um longo processo de segregação religiosa, enquanto ainda era colônia o país recebeu também os ventos da Santa Inquisição. Mas parece estranho pensar em intolerante um país que desde sua independência apesar de se intitular um país cuja religião oficial era a Católica, permitia a liberdade de culto, isto é, em 1824, na nossa primeira Constituição. Como podem conviver no mesmo país duas situações tão opostas?
Os resquícios desse passado perpetuam até hoje, e é o que podemos observar nas ironias do dia a dia. O nosso país é laico e teoricamente liberal, mas no cotidiano, como nas redes sociais, o que vemos são cada vez mais discursos de ódio. Essa dicotomia reflete, por exemplo, na estigmatização das culturas de origem africana e a banalização da fé cristã. Chamar todos os pastores de ladrão, os padres de pedófilos ou as religiões afro-brasileiras de "macumbeiras" (de forma ofensiva e genérica), dentre outros termos pejorativos, além de ofensivo é antiético, e por vezes crime. Prossigo, o preconceito alcança a todos, também as religiões tidas como minoritárias como o espiritismo, judaísmo, budismo, islamismo ou até a não-religião do ateísmo às vezes sofrem agressões.
Quem nunca viu alguém debochando de alguma religião alheia? No plano formal, as religiões têm todo o direito de terem seus conflitos, mas em termos práticos essas diferenças não deveriam agredir a vida das pessoas. Não parece sensato que a ideia da "fé' que se materializa no "amor" (o que pode ser visto majoritariamente nas correntes religiosas), seja concluída no termo das religiões e acabem por agredir tanto umas as outras. Segundo o nosso Estado de Direito, nós temos direito a professar a religião de nossa preferência, inclusive temos o direito de não praticar nenhuma religião.¹
Nos dias atuais (na verdade, parece-me que desde sempre), temos visto um certo extremismo nas posições das pessoas, por hora relatarei um episódio histórico para mostrar a contradição do ato do extremismo. Eichmann, oficial da organização nazista durante a Segunda Guerra Mundial, encaminhou muitos judeus para a morte e inclusive presenciou assassinatos. No entanto, em seu julgamento alegava não se sentir culpado, porque havia seguido o "imperativo categórico" de Kant², ou seja, estava apenas obedecendo a ordens, contou em seus relatos inclusive que não tinha nada contra o judaísmo, tanto que ele e alguns amigos tinham namorado judias. Em termos gerais, parece sem sentido se posicionar de forma extrema em uma sociedade tão globalizada e plural, em que nos relacionamos com indivíduos dos mais variados credos.
Apesar de ser possível alegar que o contexto é diferente, afinal, aqui no Brasil a intolerância religiosa não mata ninguém (a princípio), ele me parece bastante válido. Primeiro, que isto é até onde sabemos. Depois, pois não podemos afirmar que a razão de alguns suicídios os quais ocorrem pelo país não tem cunho religioso. E também, porque a agressão psicológica por vezes é tão incidente quanto à física.
O nosso sincretismo religioso visto de forma tão utópica pela ideia da união do branco, do negro e do índio, é de se questionar. Falar que não existe intolerância religiosa no Brasil é tão ingênuo como dizer que não existe racismo, machismo ou homofobia no mundo.  E não, isso não é coisa da esquerda ou direita, definitivamente essa é uma questão humanitária. Se Martin Luther King não tivesse saído da sua zona de conforto e lutado pelos direitos dos negros, o que seria dos EUA agora? Talvez a eleição de Donald Trump fosse o menor dos problemas.
Ninguém é proibido de apresentar sua fé a outrem, ninguém é proibido de manifestar a sua fé e de apresentar seu ponto de vista, não somos proibidos de fazer isso. Apenas devemos saber que em tudo há um limite, não é na bala, nos xingamentos e em nenhuma forma do tipo que iremos resolver nossas divergências, como “crianças birrentas”. Se até dentro de uma mesma religião há divergências, quem somos nós para achar que todos irão pensar igual? Todos temos o direito de professar o que acreditamos, seja o que for, e precisamos ser tolerantes o suficientes para lidar com isso, senão estaremos fadados a autodestruição.
Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.
Evelyn Beatrice Hall- Biógrafa de Voltaire”


¹ A Constituição Federal, no artigo: 5° VI, estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.
²Abordagem retirada do livro “Eichmann em Jerusalém” de Hannah Arendt.