quinta-feira, 1 de junho de 2017

Vá, Coloque um Vigia

Vá, Coloque Um Vigia
Editora: José Olympio
Ano: 2015
Páginas: 252
Idioma: Português 

Sinopse: Segundo romance de Harper Lee, que bateu recorde de número de exemplares vendidos em um só dia superando O símbolo perdido, de Dan Brown. 

Jean Louise Finch, mais conhecida como Scout, a heroína inesquecível de O sol é para todos, está de volta à sua pequena cidade natal, Maycomb, no Alabama, para visitar o pai, Atticus. Vinte anos se passaram. Estamos em meados dos anos 1950, no começo dos debates sobre segregação, e os Estados Unidos estão divididos em torno de questões raciais. Confrontada com a comunidade que a criou, mas da qual estava afastada desde sua mudança para Nova York, Jean Louise passa a ver sua família e amigos sob nova perspectiva e se espanta com inconsistências referentes à ética e a pensamentos nos âmbitos político, social e familiar.Vá, coloque um vigia é o segundo romance de Harper Lee, mas foi escrito antes do mítico O sol é para todos, que recebeu o Prêmio Pulitzer em 1961. Este livro inédito marca o retorno, após 65 anos de silêncio, de uma das maiores escritoras americanas do século XX.

Opinião: Admito que fiquei animada e receosa assim que terminei de ler O Sol é Para todos e descobri que estava lançando no Brasil Vá, Coloque um Vigia. O livro foi escrito antes do Magnum Opus da autora, porém, nunca fora lançado pela simples razão de que ela o deixou de lado para investir na outra obra. Como escritora entendo plenamente a ideia de Harper Lee, ao ouvir do editor que o potencial da obra estaria minado devido a suas críticas muito escancaradas para época, o que deve ter tido um impacto significativo para ela. Mas agora, cerca de 60 anos depois, e no fim da vida, porque ela não deixaria o livro chegar ao público? ( Harper Lee faleceu em 19 de Fevereiro de 2016) É importante ter a mentalidade de que esta trama não é exatamente uma continuação da primeira ( por ter sido escrita antes e pelas pequenas variações na história e nos personagens realizadas pela autora) e portanto segue uma linha independente.

Feitas as considerações iniciais, posso falar sobre o que achei dos personagens e da história do livro. Jean Louise (Scout) aparece adulta e como uma mulher aparentemente bem resolvida e independente. Ela possui um relacionamento com um jovem chamado Henry que conhecera na adolescência, o qual trabalhava como advogado junto a seu pai. Não é de se estranhar que nossa jovem continue com alma de moleca e seja receosa quanto ao casamento. Esta mora em Nova Iorque e volta todos os anos para passar as férias em Maycomb quando revê seu já velho pai, seu namorado e seus tios. Nosso querido Atticus se apresenta como fraco fisicamente, mas ainda com uma mente muito perspicaz.
Algo a ser muito frisado aqui é a análise política realizada pela obra da situação da mulher e do negro nos Estados Unidos dos anos 50. Essa se insere em um contexto de uma sociedade sulista conservadora e nos pequenos meandros que conduzem os conflitos da obra, inclusive de Jean com o próprio pai, o que pode parecer chocante para quem leu O Sol é para Todos. No entanto, se engana quem pensa que nossa história ficará presa a críticas políticas, quando na verdade Harper Lee se vale de uma escrita psicológica para entrar nas memórias e analisar a protagonista. É então que nos encontramos com Dill, amigo de infância,  e Jem, seu irmão. Ressalvo ainda a brilhante explanação a sua época da adolescência de Scout e os dramas nela envolvidos. Na fase adulta conhecemos melhor os seus tios e os dramas relacionamentais de nossa protagonista em uma sociedade que cobrava (e ainda cobra) da mulher um casamento bem sucedido, filhos e ser uma boa dona de cada...
Devo dizer que gostei muito de Vá, coloque um vigia, da mensagem por ele passada e da ideia do título, (alerta spoiler: o título se refere à consciência). Achei bastante reflexivo e poético, uma verdadeira análise psicológica. Porém, ainda agradeço ao editor que disse que ela podia fazer algo a mais. Se assim não fosse, talvez não teríamos essas duas belas obras. Lee não escreveu tanto assim, mas o pouco que escreveu falou tudo. Pessoas de poucas palavras, por vezes, são as que mais tem a dizer...
"Na verdade, você pensou: 'não gosto do modo de agir dessas pessoas, portanto não tenho tempo para elas'. Mas é melhor dedicar algum tempo a elas, querida, senão nunca vai crescer." p. 242

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