terça-feira, 12 de abril de 2016

Conto- "Essência"

"Marcela estava ansiosa, como era de se esperar, afinal, esperava por aquele dia há anos. Entrar no Ensino Médio seria como seu passaporte oficial para a adolescência, isto é, em sua visão. Sendo sempre uma garota pequena, todos lhe davam 11, 12  ou 13 anos no máximo. Sendo que ela recém completara 15 anos! Mas agora as coisas iriam ser diferentes, ela pensava.
Assim que pisou os pés na escola, sentiu-se diferente. Fichário na mão, materiais apostilados e várias matérias novas. Sabia que teria de começar a se preocupar com o vestibular, mas isso seria mais pra frente. Sua cabeça estava a mil e seu estomago embrulhado. Ela subia as escadas lentamente como se quisesse aproveitar cada sensação. Foi então que chegou a porta de sua nova sala.
Mais alguns passos e já estava lá dentro, então avistou seus amigos sentados à frente, como sempre. Sentou toda animada e abriu o livro cheio de novidades, algumas nem tanto. Sentia um impasse interno, parte de si não queria que nada mudasse, outra gostava de toda aquela situação. Ainda confusa em sua mente percebeu o professor chegar...
Quando chegou a hora do intervalo ficou animada-desanimada ao perceber algumas turmas do fundamental. Quer dizer, tinha amigos mais novos, então vê-los seria bom, mas por outro lado, era como se no intervalo nada tivesse mudado. Betina, sua amiga, agiu mais estranho com essa coisa de Ensino Médio do que ela esperava. Isso foi quando um conhecido dela chegou à mesa em que estavam para puxar conversa, mas ela o tratou friamente.
- Você não pode tratá-lo assim só porque agora está no Ensino Médio. Isso nem significa tanta coisa, nossa vida pode ir mudando, mas nunca podemos deixar que isso mude nossa essência!- Marcela falou sem pensar.
Foi então que se deu conta da infantilidade com que estava agindo. O que pensava? Que ficar mais velha iria torna-la melhor? Que aquilo tinha algum real significado? Estava se estapeando mentalmente por sua imaturidade. Mas antes que pudesse se culpar por algo totalmente sem sentido ouviu a risada de Betina.
- Oi? Amiga, eu nem ligo pra essa coisa de Ensino Médio. Eu só o tratei assim porque estamos brigados, mas aposto que vamos nos arrumar em breve. 
- Sério? Desculpa, acho que estou viajando com tanta mudança assim.
- Relaxa, faz parte. Um dia você vai se lembrar disso e rir!

E assim mesmo se concretizou sua profecia, alguns anos depois quando se lembrou do fato, Marcela deu uma longa risada. Ela sabia então que a vida era tão mais, tantas evoluções mais viriam. E se ela não permitisse, nenhuma delas alteraria sua essência. Nenhuma."

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